Lâmpada para os meus pés é tua palavra, e luz para o meu caminho. (Salmo 119:105) Convenção Batista Brasileira
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Doutrina dos Anjos (Angelologia) - Parte 2 de 2

Autor: Walter Andrade Campelo

Classificações específicas dos anjos

Arcanjo

O único arcanjo referenciado pela Bíblia é Miguel, cujo nome significa "Aquele que é semelhante a Deus":

"Mas o arcanjo Miguel, quando contendia com o diabo, e disputava a respeito do corpo de Moisés, não ousou pronunciar juízo de maldição contra ele; mas disse: O Senhor te repreenda." (Judas 9 ACF1)

Devido ao significado do nome Miguel, confundem-no alguns com Cristo, alegando ser Miguel um outro nome para Jesus. John Gill foi um dos defensores desta teoria, conforme pode ser visto em seu comentário a Judas 9:

"A quem se refere, não a um anjo criado, mas a um eterno, o Senhor Jesus Cristo; como se denota através do nome Miguel, que significa: "Aquele que é como Deus", e quem é como Deus, ou semelhante a Ele? Além do Filho de Deus, quem é igual com Deus? E do seu papel como o arcanjo, ou Príncipe dos anjos, porque Cristo é o cabeça de todos os principados e potestades; e do que é dito em outras partes sobre Miguel, como ele sendo o grande Príncipe, ao lado do povo de Deus, e tendo os anjos em sua submissão, e seu comando. ( Daniel 10:21; 12:1; Apocalipse 12:7). Assim Filo o Judeu o chamou de a mais antiga Palavra, primogênito de Deus, o arcanjo."

Uriel é chamado de arcanjo nesta passagem do apócrifo de Esdras:

"E sobre estas coisas Uriel, o arcanjo, deu-lhes resposta, e disse: Mesmo quando o número de sementes for preenchido em vocês, porque ele tem pesado o mundo na balança." (4:36)

A palavra arcanjo aparece somente duas vezes na Bíblia Sagrada, uma no texto em Judas 9, e outra no texto em I Tessalonicenses 4:16 ACF:

"Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro."

Nesta passagem o Senhor Jesus é distinguido do arcanjo, com cuja voz virá o Senhor buscar Sua Igreja.

Também é importante verificar outra passagem bíblica que referencia Miguel:

"Mas o príncipe do reino da Pérsia me resistiu vinte e um dias, e eis que Miguel, um dos primeiros príncipes, veio para ajudar-me, e eu fiquei ali com os reis da Pérsia." (Daniel 10:13 ACF)

Miguel é aqui apontado como "um dos primeiros príncipes". Cristo não pode ser referido como "um dos". Ele é único, é o unigênito de Deus, é Deus. Também não é "dos primeiros", pois já estava lá desde a eternidade, e tudo foi feito por Ele; incluindo-se nisto: "um dos primeiros príncipes":

"No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. (2) Ele estava no princípio com Deus. (3) Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez." (João 1:1-3 ACF)

Notemos que Miguel significa "aquele que é semelhante a Deus". Gill segue sua argumentação elevando a categoria da palavra semelhante para uma igualdade quando pergunta: "quem é igual a Deus?". Na verdade Miguel foi feito semelhante a Deus. Nós próprios fomos feitos à Sua imagem e semelhança! Mas, nunca seremos iguais a Deus!

Vemos também em Hebreus, o autor sagrado referindo-se a Jesus de modo completamente distinto dos anjos, colocando-o em posição de autoridade sobre todos os anjos:

"Feito tanto mais excelente do que os anjos, quanto herdou mais excelente nome do que eles. (5) Porque, a qual dos anjos disse jamais: Tu és meu Filho, Hoje te gerei? Eu lhe serei por Pai, E ele me será por Filho? (6) E outra vez, quando introduz no mundo o primogênito, diz: E todos os anjos de Deus o adorem. (7) E, quanto aos anjos, diz: Faz dos seus anjos espíritos, E de seus ministros labareda de fogo. (8) Mas, do Filho, diz: O Deus, o teu trono subsiste pelos séculos dos séculos; Cetro de eqüidade é o cetro do teu reino". (Hebreus 1:4-8 ACF destaque acrescentado)

Pelo claro ensino das escrituras Jesus NÃO é um anjo, os anjos foram por Ele criados, e Miguel é distinto de Cristo. Miguel é o arcanjo e Cristo é o Filho de Deus. Não cabendo qualquer confusão neste ponto.

Serafins

A palavra hebraica para Serafim é "saraph", que significa serpente que queima ou serpente ardente. Esta palavra se origina em outra palavra hebraica que significa queimar ou arder. A única ocasião em que esta palavra descreve esta classe particular de anjos ocorre no capítulo 6 de Isaías, onde são descritos como seres com aparência humana (rostos, pés e mãos) e com seis asas, sendo duas utilizadas para cobrir o rosto, e duas para cobrir os pés, e com duas voavam. Criaturas com características semelhantes podem ser vistas em Apocalipse 4, onde encontramos quatro seres também com seis asas, e louvando ao Senhor de modo muito semelhante ao descrito por Isaías. Não há, contudo, qualquer garantia de que estes textos tratem dos mesmos seres, ou tão somente, são seres com algumas características comuns.

A palavra "saraph" no Antigo Testamento é utilizada para designar as serpentes ardentes2 que picavam o povo de Israel no deserto, bem como para designar a serpente que foi feita por Moisés e posteriormente destruída por Ezequias. As referências aos anjos em Isaías como Serafins (serpentes) nos remetem ao Jardim do Éden onde a antiga serpente tentou Eva. Fica, então, a pergunta: - Seria Satanás um Serafim?

Querubins

Querubim vem da palavra hebraica "kerub". No grego temos uma única referência à palavra Xeroubin (cheroubim) que é o plural do hebraico "kerub" 3.

No Antigo Testamento temos 66 versos que trazem a palavra "kerub". Sua primeira ocorrência descreve os seres que foram postos por Deus, como guardas, ao oriente do Jardim do Éden, quando, por causa do pecado, expulsou de lá o homem. Em outras são referências às figuras postas sobre propiciatório (tampa que protegia o conteúdo da arca da Aliança), uma em cada extremidade, provendo proteção aos objetos contidos na arca:

"Farás também dois querubins de ouro; de ouro batido os farás, nas duas extremidades do propiciatório. (19) Farás um querubim na extremidade de uma parte, e o outro querubim na extremidade da outra parte; de uma só peça com o propiciatório, fareis os querubins nas duas extremidades dele. (20) Os querubins estenderão as suas asas por cima, cobrindo com elas o propiciatório; as faces deles uma defronte da outra; as faces dos querubins estarão voltadas para o propiciatório. (21) E porás o propiciatório em cima da arca, depois que houveres posto na arca o testemunho que eu te darei. (22) E ali virei a ti, e falarei contigo de cima do propiciatório, do meio dos dois querubins (que estão sobre a arca do testemunho), tudo o que eu te ordenar para os filhos de Israel". (Êxodo 25:18-22 ACF)

O propiciatório, com os querubins, não somente proviam proteção ao conteúdo da arca, mas formavam um suporte visível para o trono invisível de Deus.

"Tu, que és pastor de Israel, dá ouvidos; tu, que guias a José como a um rebanho; tu, que te assentas entre os querubins, resplandece". (Salmo 80:1 ACF)

"O SENHOR reina; tremam os povos. Ele está assentado entre os querubins; comova-se a terra". (Salmo 99:1 ACF)

Foram bordados querubins também nas cortinas e nos véus do Tabernáculo, bem como nas paredes do Templo. ( Êxodo 26:31 e II Crônicas 3:7)

Também eram querubins que sustentavam o trono de Deus no relato encontrado em Ezequiel 10:

"Depois olhei, e eis que no firmamento, que estava por cima da cabeça dos querubins, apareceu sobre eles uma como pedra de safira, semelhante a forma de um trono. (2) E falou ao homem vestido de linho, dizendo: Vai por entre as rodas, até debaixo do querubim, e enche as tuas mãos de brasas acesas dentre os querubins e espalha-as sobre a cidade. E ele entrou à minha vista. (3) E os querubins estavam ao lado direito da casa, quando entrou aquele homem; e uma nuvem encheu o átrio interior. (4) Então se levantou a glória do SENHOR de sobre o querubim indo para a entrada da casa; e encheu-se a casa de uma nuvem, e o átrio se encheu do resplendor da glória do SENHOR. (5) E o ruído das asas dos querubins se ouviu até ao átrio exterior, como a voz do Deus Todo-Poderoso, quando fala. (6) Sucedeu, pois, que, dando ele ordem ao homem vestido de linho, dizendo: Toma fogo dentre as rodas, dentre os querubins, entrou ele, e parou junto às rodas. (7) Então estendeu um querubim a sua mão dentre os querubins para o fogo que estava entre os querubins; e tomou dele, e o pôs nas mãos do que estava vestido de linho; o qual o tomou, e saiu. (8) E apareceu nos querubins uma semelhança de mão de homem debaixo das suas asas". (Ezequiel 10:1-8 ACF)

Observemos, neste relato, várias características dos querubins, como o fato de serem criaturas aladas, de terem mãos como que de homens, de serem os sustentadores do trono de Deus e de serem criaturas extremamente poderosas.

O Anjo do Senhor

Há várias referências bíblicas sobre aparições do Anjo do Senhor, sendo este um ensino da maior importância, pois são estas aparições teofanias, mais especificamente teofanias em que Deus se apresentava em forma humana. Há no Antigo Testamento 62 referências ao Anjo do Senhor (ou à variante Anjo de Deus), sendo a primeira em Gênesis 21:17, quando o Anjo de Deus aparece a Agar no deserto. O Anjo do Senhor apareceu por várias vezes executando tarefas destinadas aos anjos ordinários, ou seja, trazendo mensagens de Deus4, protegendo o povo de Deus5 e suprindo suas necessidades6.

Contudo, apesar de várias controvérsias entre os eruditos quanto a este assunto específico, devemos aqui estabelecer a identidade do Anjo do Senhor, como sendo pré-encarnações de nosso Senhor Jesus Cristo. Para tanto trataremos alguns pontos que sempre distinguem as aparições do Anjo do Senhor de aparições de outros anjos:

- Um dos pontos mais relevantes quanto a esta questão é que no contexto do Novo Testamento não há sequer uma referência a "o Anjo do Senhor". Sempre que ocorre referência a "Anjo do Senhor", esta se faz como "um anjo do Senhor" e nunca como "O Anjo do Senhor". Esta substituição diz muito em sua aplicação direta, pois, ser "um", é ser um entre muitos, e ser "o" é ser único do gênero7. No texto grego não encontramos o artigo definido "o" anexo à palavra aggelov (aggelos), colocando todas as referências com exceção de Atos 7:30,8 na condição de um em muitos, e não de único em sua espécie. É importante tomarmos esta posição, especialmente em vista de I Timóteo 3:16, pois Deus já havia se manifestado em carne, tornando estas ocorrências como aparições de um de seus anjos.

- O Anjo do Senhor aceitou a adoração de Josué9. Um anjo comum não admite ser adorado, como pode bem ser visto nas passagens em Apocalipse 19:10 e 22:8-9. A instrução é clara: "Adora a Deus". Anjos têm clara noção de sua posição e não admitem que os homens os adorem. Se o "Anjo de Deus" que apareceu a Josué não fosse o próprio Deus (segunda pessoa da trindade), não teria aceitado, de forma alguma, a adoração de Josué.

- Em Juízes 13:15-22 temos:

"15 Então Manoá disse ao anjo do SENHOR: Ora deixa que te detenhamos, e te preparemos um cabrito. (16) Porém o anjo do SENHOR disse a Manoá: Ainda que me detenhas, não comerei de teu pão; e se fizeres holocausto o oferecerás ao SENHOR. Porque não sabia Manoá que era o anjo do SENHOR. (17) E disse Manoá ao anjo do SENHOR: Qual é o teu nome, para que, quando se cumprir a tua palavra, te honremos? (18) E o anjo do SENHOR lhe disse: Por que perguntas assim pelo meu nome, visto que é maravilhoso? (19) Então Manoá tomou um cabrito e uma oferta de alimentos, e os ofereceu sobre uma penha ao SENHOR: e houve-se o anjo maravilhosamente, observando-o Manoá e sua mulher. (20) E sucedeu que, subindo a chama do altar para o céu, o anjo do SENHOR subiu na chama do altar; o que vendo Manoá e sua mulher, caíram em terra sobre seus rostos. (21) E nunca mais apareceu o anjo do SENHOR a Manoá, nem a sua mulher; então compreendeu Manoá que era o anjo do SENHOR. (22) E disse Manoá à sua mulher: Certamente morreremos, porquanto temos visto a Deus".

Esta passagem nos esclarece vários pontos. O primeiro a ser levado em conta é o nome do anjo do Senhor, que é Maravilhoso. Ora, vemos em Isaías 9:6, que Maravilhoso é nome dado ao menino que nos foi dado por Deus para salvação do homem. Alem disto vemos o próprio reconhecimento de Manoá (pai de Sansão) de que o Anjo do Senhor que lhe havia aparecido era Deus. Vemos também o anjo do Senhor subindo na chama do altar, tipologia para o sacrifício que a segunda pessoa da trindade, nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, viria a fazer por todos os homens.

Por todas estas razões devemos entender com firmeza e clareza que O Anjo do Senhor (ou o Anjo de Deus) no Antigo Testamento é sim, e sem dúvidas nosso Senhor Jesus Cristo.

O Anjo Gabriel

A palavra Gabriel vem do hebraico "Gabriy'el", que quer dizer "guerreiro de Deus" ou "homem de Deus", provindo da junção de "geber", "homem forte" ou "guerreiro" e 'el. Este anjo é o anunciador das grandes mensagens de Deus para a humanidade, tendo aparecido a Daniel10 e depois no Novo Testamento durante a anunciação do nascimento de João o Batista11 e de Jesus Cristo12.

É o anjo que assiste diante de Deus, sendo ele o portador das grandes mensagens de Deus para os homens.

O Anjo da guarda

"Vede, não desprezeis algum destes pequeninos, porque eu vos digo que os seus anjos nos céus sempre vêem a face de meu Pai que está nos céus". (Mateus 18:10 ACF)

O primeiro problema a ser solucionado nesta passagem é quem são os pequeninos referidos por Jesus. Há duas interpretações possíveis, uma direta que indicaria Cristo estar falando de crianças. Outra indicaria que Ele estaria falando de seus discípulos, pois por diversas vezes Ele assim o fez (cf. Mateus 10:42; 18:6). Poderíamos entender ambos os significados, mas devemos dar preferência ao último, por ser esta a prática de Cristo. Quando Ele falava de crianças, Ele as chamava de crianças mesmo ou de meninos, não de pequeninos.

Esta passagem não deve ser tomada, como muitos o têm feito, no sentido de que haja um anjo para cada crente. O texto não diz isto, mas sim que há ação angelical de proteção dos discípulos de Cristo. E esta ação faz parte do trabalho geral dos anjos em proteger o povo de Deus:

"Não são porventura todos eles espíritos ministradores, enviados para servir a favor daqueles que hão de herdar a salvação?" (Hebreus 1:14 ACF)

Logo, não há tal coisa como "anjo da guarda", mas sim anjos que servem por ordens de Deus àqueles que estão aqui executando as boas obras, que Deus preparou para que andassem nelas13.

O Anjo da Igreja

Quem são os anjos da Igreja tratados nos primeiros capítulos do Apocalipse de João? Esta pergunta tem sido alvo de respostas diversas, e se faz necessário estudá-las.

A resposta mais comum é que João ao escrever estaria se referindo aos pastores destas Igrejas, com base em Malaquias 2:7, onde a palavra K)lm (mal'ak), designativa de anjo no hebreu, é empregada aos líderes religiosos como sendo mensageiros da vontade de Deus. Assim, aos mensageiros das Igrejas (aggelos) ou aos seus anjos, é que seriam escritas as cartas.

Contudo, outras interpretações como a do alegorista Orígenes de Alexandria indicariam se tratar de anjos reais, e sendo assim, cada Igreja teria o seu próprio anjo da guarda particular. Mas, vemos pelo conteúdo das cartas que elas não se dirigem a um anjo, mas a pessoas, aos membros daquela igreja.

Outros ainda argumentam que seriam espíritos malignos que estariam ali para se alimentar dos pecados dos membros daquela Igreja. Sendo que cada Igreja teria então um "demônio de guarda" pronto a agir a cada tropeçar dos salvos ali congregados.

O que de fato se pode entender é que o anjo e a Igreja se confundem na mensagem, indicando claramente que o anjo faz parte da Igreja, e este entendimento aponta de forma inequívoca para o pastor como anjo da Igreja.

Conclusão

Esta doutrina, apesar de difícil, é da mais alta importância para o crente em sua vida cotidiana, pois os anjos são exemplos de louvor e ajudadores enviados por Deus. É reconfortante saber que há anjos do Senhor trabalhando para nos proteger dos perigos espirituais que rondam nossas vidas, e os termos como exemplo de quão maravilhosa será nossa vida louvando ao Senhor por toda a eternidade.

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