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Pr. Rubens Lopes

Um Pouco de Sol

O Céu Por Um Copo D'água

É o que muita gente pretende: o céu em troca de um copo d'água. Como se tanto se pudesse conseguir com tão pouco.

A idéia de um copo d'água ocorre-nos em razão da seguinte palavra de Jesus:

"Qualquer que tiver dado só que seja um copo d'água fria a um destes pequenos, em nome de discípulo, em verdade vos digo que de modo algum perderá o seu galardão" (Mateus 10:42)

O que Jesus ensinou com essas palavras é que qualquer ato de bondade, por humilde que seja e praticado em favor do ser mais humilde, não ficará sem recompensa. Até mesmo um copo d'água fria, que não importe no consumo de lenha ou carvão para ser aquecida - não pode haver aquilo que seja mais barato - será levado em conta pelo Senhor, desde que oferecido a um pequeno discípulo de Jesus e em nome dele, como acrescenta o Evangelho de Marcos numa passagem paralela (Marcos 9:41).

Vai daí, não falta quem cuide ganhar o céu fazendo caridade. Substituindo a fé pelo amor e a religião pela ética. Se o fim de toda religião é o bem, mais importante do que a religião é o próprio bem. Em outras palavras: fazer o bem é a melhor religião. Mesmo porque o bem é universal, e as religiões, não. Cada um tem a sua e cada uma faz por parecer melhor do que as outras. Bolas! Como hei de descobrir a verdadeira no meio das falsas? Então é melhor não professar nenhuma, desde que faça empenho em dar um copo d'água. A causa ainda pode ser outra: conflito íntimo. Remorso. Sei que não procedo bem. A minha vida está inçada¹ de más ações: sei que sou até um patife².

Então para equilibrar a balança ponho no outro prato um copo d'água como contrapeso às muitas maldades que estão do outro lado. Não há bandidos que tiram dos ricos para dar aos pobres? Será a caridade que os leva a isso ou o remorso?

Deixemos claro que ninguém vai para o céu por ser bom.

Estamos na época do humanitarismo e isso conforta - humanitarismo, em sentido lato, é o sistema filosófico que põe o interesse da humanidade acima de tudo e, em sentido estrito, é filantropia, caridade, benemerência.

Tomemos a palavra no segundo sentido para concluir que humanitarismo não substitui cristianismo. A fé é essencial, não havendo sucedâneo³ para ela.

É salvo aquele que crê e não aquele que dá esmolas. Senão seria fácil entrar no céu; algumas moedas bastariam para comprar a entrada. Mas custa tanto ao homem habilitar-se a entrar em comunhão com Deus que foi preciso haver o Calvário e nele uma cruz e nela um crucificado. É a fé no divino crucificado que salva, mesmo que o penitente tenha gasto a vida tirando do próximo, ao invés de dar-lhe, como aconteceu ao ladrão que se converteu in extremis⁴, na cruz ao lado da de Cristo.

O céu por um copo d'água chega a ser pilhéria⁵.

Mas em que muita gente acredita.