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A Multidão Manda Pular*
Autora: Norma Braga
Não temais, nem vos assusteis por causa desta grande multidão, porque a peleja não é vossa, mas de Deus. (II Crônicas 20:15)
A fé cristã exalta o indivíduo que resiste ao contágio vitimário. (René Girard)
Conselho sábio, o de David Bowie:
Não dê ouvidos à multidão, ela manda pular.
Hoje, o pensamento de esquerda é obrigatória unanimidade, e a simples menção favorável à "direita" ou o mais leve sinal de recusa a conteúdos sinistros, mesmo quando acompanhados de argumentos, atraem reações padronizadas: "nazista", "fascista", "reacionário". É quando a boca se presta a obedecer ao automatismo de uma programação feita em tempos imemoriais, na escola, na mídia. O sujeito que pronuncia os impropérios não se dá conta do despropósito de chamar de seguidor de Hitler ou Mussolini, ou retrógrado, quem quer que denuncie a imposição estatal sobre a liberdade individual ou reclame do domínio de mentes e corações por uma ideologia monocromática, cega para a singularidade e para as nuances. Diante de alguém único, a ideologia de esquerda sempre mandará exclamar: antes de ser humano, você é pobre, ou mulher, ou negro, ou gay, e deve servir aos interesses da luta de classes, do feminismo, da ação afirmativa, do politicamente correto.
Satisfeito por "pertencer", quem recebe esse mandato se refestela na agradável sensação de conforto e legitimidade que o grupo confere, servindo como simulacro de família e causa ao mesmo tempo. Não é nem necessário estar filiado a um algum partido de esquerda: de fato, a pressão mais eficaz é a distraída, impensada, fiel a regras quase indefiníveis. É assim que o corpo do militante inconsciente reverbera a reação aprendida com sincera indignação, o que deixa o outro ainda mais confuso. A repetição das palavras a cada idéia expressa – nazista, fascista, reacionário;nazista, fascista, reacionário – só condensa no espírito do alvo dissidente a óbvia conclusão: superou-se o regime totalitário explícito, que usa violência física, pelo regime totalitário implícito, por meio da programação mental (neurolingüística?). Cada cidadão se torna, nessa segunda modalidade, o vigia e cruel verdugo do outro, tal como no mundo imaginado por George Orwell. Facilmente manejável, a multidão é uma força imbatível contra o indivíduo, que pode recuar por puro mecanismo de auto-sobrevivência emocional.
Mas a Bíblia não é coletivizante. Pelo contrário, nela se denunciam as coletividades como fomentadoras da uniformização do mal. Em Êxodo 23: 2, Deus diz: "Não seguirás a multidão para fazeres o mal; nem numa demanda darás testemunho, acompanhando a maioria, para perverteres a justiça."
De fato, a multidão estava presente como força coativa na negação de Pedro; estava presente para mandar matar Jesus aos alegres gritos de "crucifica! crucifica!". A multidão está sempre presente quando alguém arrisca suicidar-se pulando de um prédio. É quando todos gritam: "pula!".
Para desafiar o impulso homicida da multidão, Deus nos alcança individualmente, através da vitória pessoal de um único, Jesus Cristo. Em João 16:33, Jesus diz: "No mundo tereis aflições, mas eu venci o mundo." O "mundo", força uniformizante do pecado, é confrontado por sal e luz
(Mateus 5:13-15):
a luz ilumina e dissipa mentiras, dissimulações, confusões mentais; o sal não só dá sabor, transformando a adesão automática em firmeza de postura, mas, em pleno mundo caído, impede o avanço da destruição.
Mas isso só é feito a partir da renovação interior – "novo nascimento" – que o próprio Cristo opera em cada um que se propõe a colocar sua vida nas mãos Dele, a única autoridade absoluta e boa. Nele, nós nos libertamos do poder que as multidões têm sobre nós, pois só Ele é nosso mediador com o Pai, mais ninguém. Nele, não somos engolidos pelo grupo: o equilíbrio entre individualidade e vida em comunidade é restaurado pela unidade em Cristo, na medida em que, ao imitá-Lo, não estamos mais submissos ao imperioso impulso de ser igual ao outro para pertencer. Somos de Cristo, e isso nos basta. A programação uniformizante perde assim seu sentido, sendo substituída por vida verdadeira.
* Texto primeiramente publicado no blog da autora: Flor da Obsessão
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