|
Ordenação de Mulheres ao Ministério da Palavra?
Autor: Jaime Augusto Cisterna*
1. Introdução
A questão da ordenação de mulheres ao ministério da Palavra tem sido objeto de discussão por parte de muitas pessoas em igrejas e seminários. É um assunto tão delicado que alguns preferem nem mesmo se pronunciar sobre ele. Normalmente, esse tema tem sido discutido mais sob a ótica cultural dos tempos bíblicos em relação ao tempo atual e dos direitos de igualdade entre homem e mulher. Por isso mesmo tem causado constrangimento em alguns meios, tornando-se um assunto melindroso. O debate tem sido mais em torno desses aspectos culturais e pessoais do que necessariamente exegético e talvez seja essa a razão do incômodo.
As posições giram sempre em torno de três opções: A primeira diz que mulher pode ser pastora; a segunda declara que a mulher não pode ser pastora e, a terceira afirma que não tem posição. De forma geral, aqueles que defendem a ordenação feminina ao pastorado usam argumentos baseados no avanço da civilização, na modernização dos tempos, no progresso humano e a crescente participação da mulher em outras áreas da sociedade. Nessa mesma linha, outros consideram simplesmente inevitável que as mulheres sejam ordenadas pastoras, pois, segundo pensam, essa é uma tendência irreversível. Naturalmente, ainda há aqueles que pensam sob o ponto de vista da igualdade e analisam a nova sociedade que Cristo construiu, fazendo de ambos um só povo, onde não há distinção entre homem e mulher
(Ef 2.14-16).
Do segundo grupo, que é contrário à ordenação das irmãs, alguns são simplesmente machistas e não ponderam o assunto com sobriedade e acabam relegando às mulheres uma posição quase humilhante. Alguns simplesmente ignoram as questões mais simples da teologia, sociologia, entre outras, para oferecer uma posição consistente. O terceiro grupo está dividido entre aqueles que temem ser dogmáticos por não encontrarem subsídios e aqueles que não se importam com o assunto, como se isso não lhes dissesse respeito ou fosse importante.
No entanto, esse artigo deseja desafiar o leitor a uma reflexão teológica do assunto. Apesar de reconhecer que todos devem sempre considerar os tempos e as mudanças culturais, creio que a Bíblia deva ser sempre o primeiro e último escrutínio para uma decisão assim. Como pastores, nosso espírito precisa ser bíblico, mesmo que isso implique em posicionamentos contrários à cultura ou à tendência por mais inevitável que seja. A voz profética, aliás, nem sempre obteve respaldo da moda. Tendo como base os escritos de alguns autores comprometidos com a Bíblia, quero propor a análise de determinados textos sagrados para provocar uma reflexão consistente em cada um (pelo menos que sirva de ponto de partida), para depois chegar a uma conclusão.
2. Passagens consideradas a favor da ordenação feminina
Em primeiro lugar vamos olhar para algumas passagens bíblicas que muitas vezes são usadas para sustentar a possibilidade da ordenação feminina ao ministério pastoral. A primeira delas é
Romanos 16.7
- aqui, em sua saudação à Igreja de Roma, Paulo menciona uma pessoa por nome Júnias, que era notável entre os apóstolos. Algumas correntes tomam esse texto para argumentar que Júnias era uma mulher que exercia o ofício apostólico. Antes de mais nada, porém, duas perguntas devem ser feitas: a) seria esse um nome feminino? b) a expressão "notável entre os apóstolos", significa que Júnias era um dos apóstolos ou significa que os apóstolos tinham Júnias em alta conta?
Ao que tudo indica, parece que Júnias era nome tanto de homem quanto de mulher no período neotestamentário. O conhecido pastor e teólogo batista Russell Shedd declara que "não é possível determinar através do original se o segundo nome é feminino ou masculino". Alguns autores lembram que Epifânio relata que Júnias se tornou bispo de Apaméia. Outro dos antigos pais da Igreja, Orígenes, também faz referência em seu comentário em latim à carta aos Romanos a Júnias, mas, no masculino. De forma conclusiva, no entanto, a única coisa de que se tem certeza no texto de
Romanos 16.7
é que Júnias era uma pessoa que ajudou o apóstolo em seu ministério. Qualquer exegeta sabe que fica muito difícil tomar o apoio de uma passagem tão frágil como essa para fazer uma sustentação doutrinária.
Uma outra passagem muito usada para apoiar a visão da ordenação feminina é
Gálatas 3.28,
que declara: "não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus". É, de fato, um texto muito atraente e muitos encontram nele o respaldo para sua posição, fazendo uso dele para dizer que Cristo aboliu toda a diferença entre homem e mulher. Para eles, Cristo quebrou a maldição de Gênesis sobre a mulher, e agora dá, também a ela, o direito de ter as mesmas funções eclesiásticas que os homens.
Como sempre, a boa exegese sempre nos leva a fazer uma pergunta ao texto. Nesse caso específico, a melhor pergunta a ser feita seria: Nesse texto o apóstolo Paulo está falando da abolição da subordinação feminina e de igualdade de funções ministeriais entre homem e mulher? A resposta pode começar a ser encontrada no contexto de Gálatas. Ao que tudo indica, Paulo escreveu essa carta para responder a questões levantadas sobre a nossa justificação diante de Deus. Sua afirmação central é a de que todos, independente da sua raça, cor, posição social e sexo, são recebidos por Deus da mesma maneira: pela fé em Cristo. Definitivamente
Gálatas 3.28
não está tratando do desempenho de papéis na igreja e na família, mas da nossa posição diante de Deus. A salvação em Cristo justifica igualmente homens e mulheres diante de Deus, mas não altera o papel de ambos estabelecido previamente na Criação. O pastor e teólogo presbiteriano Augustus Nicodemus afirma que "o assunto não são as funções que homens e mulheres desempenham na Igreja de Cristo, mas a posição que todos os que crêem desfrutam diante de Deus".
É importante sempre ter em mente que a questão da subordinação feminina tem sua base na Criação (Gênesis 1 e 2) e não na Queda (Gênesis 3). A cruz de Cristo aboliu as diferenças cerimoniais para que todos pudessem aproximar-se de Deus, mas em nenhum momento pôs um término nas funções ou papéis fundamentais do homem e da mulher estabelecidos por Deus muito antes da Queda. Para o Dr. Shedd "no reino de Deus, homem e mulher são iguais; na natureza, são interdependentes, na sociedade, igreja e família, a mulher se submete". A igualdade que hoje há em Cristo não afetou ou alterou o papel do homem ou da mulher. O marido continua sendo o cabeça e a mulher continua sendo submissa. Essa posição honrosa de ambos contribui inclusive para o entendimento da nossa eclesiologia. É o paralelo do casamento humano com as bodas de Cristo e sua igreja, a noiva
(1Co 11.7-10;
Ef 5.22-24
e
1Tm 2.12-15).
Há ainda um outro fator a ser observado. Aquilo que é bom para a Igreja é bom para a sociedade também. No coração de uma mulher cristã deveria haver o sentimento de promover a liderança de seu marido, bem como no coração de um homem cristão deveria haver o sentimento de liderar sua esposa em amor. Esse sentimento de submissão "no temor de Deus"
(Ef 5.21)
deveria ser o tom do "bom andamento da vida", como sugere o Dr. Russell Shedd. Para ele esse compasso de submissão deveria existir naturalmente no lar, "da esposa para o marido, dos filhos aos pais", e também "no emprego, dos empregados aos chefes", todos, enfim, refletindo a submissão "da Igreja para o seu Mestre, Cristo". A deterioração desse valor dentro da Igreja tem afetado em grande parte as famílias por todo o mundo. A Igreja tem a oportunidade de colocar-se como um padrão diferente do mundo, mas infelizmente tem se adaptado com muita facilidade às suas pressões. O pastor batista John Piper declara que "na igreja, a redenção em Cristo deu a homens e mulheres bênçãos iguais da salvação; no entanto, alguns papéis do governo e ensino dentro da igreja permanecem restritos aos homens". Assim, esse texto de Gálatas também não deve ser utilizado como base teológica para o ministério pastoral feminino.
Uma terceira passagem ainda muito usada para sustentar a ordenação feminina ao ministério pastoral é
Atos 2.16-18,
quando Pedro cita o profeta Joel dizendo que, "vossas filhas profetizarão e sobre as minhas servas derramarei do meu Espírito". Esse texto é usado para dizer que, assim como os homens, as mulheres também receberam o Espírito Santo de Deus e, portanto, podem exercer as mesmas funções que eles. Em primeiro lugar, deve-se notar o paradoxo dessa defesa, pois, para se reclamar igualdade aqui, dever-se-ia antes, reclamar igualdade lá. O texto diz que elas receberam o Espírito, sim, mas não diz que elas exerceram ministério pastoral. Pelo menos, é o que o "silêncio da Bíblia" indica. Se as mulheres exerceram os mesmos ministérios que os homens no período da igreja apostólica, por que não há nenhuma menção no Novo Testamento de apóstolas, presbíteras, pastoras ou bispas? Por todo o Novo Testamento não se encontra qualquer recomendação apostólica nesse sentido. Nem uma sequer! As cartas conhecidas como "Pastorais", em que Paulo instrui Timóteo e Tito, e que são usadas como texto base para a ordenação dos oficiais da Igreja, nada falam quanto à ordenação de mulheres. O conhecido pastor e escritor John Piper (Bethlehem Baptist Church, em Minneapolis, EUA) lembra que todos os dons são dados tanto a homens como a mulheres, mas os ofícios, não, e essa distinção (entre dons e ofício) precisa estar em nossa mente. Uma simples leitura das qualificações exigidas por Paulo em
1 Timóteo 3.1-7
e
Tito 1.5-9
transmite a clara impressão de que o apóstolo tinha em mente a ordenação de homens. E ninguém pode alegar que era uma questão cultural ou machismo da parte do apóstolo. Ele não apenas reconhecia a igualdade do ser humano diante de Deus e a importância do trabalho feminino no Reino, mas também sempre lutou para proteger a mulher dentro daquela sociedade machista. Ele tinha questões teológicas em mente.
Mais uma vez, então, a pergunta que deve ser feita ao texto em questão é: o fato de as mulheres receberem o Espírito Santo significa obter autorização para a ordenação ministerial? O Dr. Nicodemus lembra que o texto fala de profecia, sonhos e visões e, bem sabemos, que esses fenômenos podem acontecer sem que a pessoa seja ordenada. Essa passagem não é um texto que traz qualificações para o ministério pastoral. Apesar de ter havido profetizas na igreja apostólica, como as quatro filhas de Filipe
(At 21.9;
cf.
1Co 11.5),
em nenhum lugar diz que elas eram pastoras.
Basicamente essas são as passagens utilizadas para sustentar a ordenação feminina ao pastorado. Mas elas devem ser analisadas com atenção, pois o fato de terem recebido os dons do Espírito (inclusive aqueles relacionados com o ensino), nenhum dos textos traz sustentação para que elas sejam ordenadas. Quando Cristo desejou estabelecer pastores para sua Igreja, ele nos deixou o registro bíblico de homens sendo incumbidos dessa função. Mesmo sendo um Senhor gracioso que considera todos iguais para receberem misericórdia e graça; que ama indistintamente suas ovelhas e morreu por todas de igual forma, ele não mencionou mulheres como pastoras. Ele as amou, serviu e foi servido por elas. Não as ignorou, mas, pelo contrário, foi-lhes um protetor num mundo desigual. Foi o libertador de tantas opressões que elas sofriam, mas nada falou sobre serem pastoras. Além disso, a igreja sempre declarou ser sustentada sobre o ensino dos apóstolos e eles, da mesma forma, não parecem sustentar essa posição.
Todos os textos acima demonstram que as mulheres cristãs, juntamente com os homens, participam da graça de Deus, e dos dons do Espírito, sem restrições. Entretanto, toda boa homilética afirmará que elas nada têm a dizer sobre ordenação ao ministério pastoral, nem a favor, nem contra, pois tratam de outros assuntos, não podendo ser usadas para sustentar essa posição. Há, todavia, pelo menos três passagens bíblicas que oferecem princípios sobre o assunto por tratarem do ensino e, aparentemente, impõem restrições à ordenação pastoral feminina e que por essa razão também devem ser analisadas.
3. Passagens consideradas contra a ordenação feminina
A primeira delas é
1 Coríntios 11.2-16.
Aqui Paulo aborda o problema causado por algumas mulheres que estavam orando, profetizando (e provavelmente falando em línguas) com a cabeça descoberta, isto é, sem o véu, contrariando assim o costume das igrejas cristãs primitivas
(v. 16).
O contexto nos leva a entender que algumas mulheres daquela comunidade estavam fazendo reivindicações, mas tinham um espírito contencioso
(v. 16).
O apóstolo naturalmente não nega à essas mulheres a participação no culto, mas insiste que elas usem o véu - uma expressão cultural que reflete o princípio permanente da subordinação feminina
(11.5,6,10,14).
O apóstolo indica que, nos cultos, a participação delas deveria ser vista como um sinal de que estavam debaixo da autoridade eclesiástica masculina
(v.10).
Em outras palavras, embora Paulo permita que a mulher profetize e ore no culto público, ele requer dela que se apresente de forma a deixar claro que está debaixo de autoridade, no próprio ato de profetizar ou orar.
Isso pode ser confuso e soar como "politicamente incorreto" caso não tenhamos um coração espiritualmente disposto nas mãos do Senhor. No texto em questão, Paulo argumenta teologicamente, a partir da subordinação de Deus Filho a Deus Pai. A subordinação da mulher ao homem não a torna inferior. Assim como Pai e Filho, que são iguais em poder, honra e glória, desempenham papéis diferentes na economia da salvação (o Filho submete-se ao Pai), homem e mulher se complementam no exercício de diferentes funções, sem que nisso haja qualquer desvalorização. Para o professor de Novo Testamento, Dr. Thomas Schreiner,
"uma vez que Paulo apela à relação entre os membros da Trindade, fica claro que ele não olha para as relações descritas neste texto como meramente cultural". Paulo ainda recorre ao relato da Criação em Gênesis 2, desejando mostrar que a mulher não é inferior, mas, sim, a glória do homem
(vv.8-9).
Paulo vê nos detalhes da Criação uma ordenação divina quanto aos diferentes papéis do homem e da mulher. O fato, por exemplo, de termos de ser submissos às autoridades civis não nos torna inferiores. A própria Bíblia ordena essa submissão
(Rm 13.1-5;
1 Pe 2.13-17).
Também os filhos não são inferiores a seus pais, mas lhes devem submissão
(Ef 6.1).
Como bem lembrou o Dr. Nicodemus,
"o conceito de subordinação de uns a outros tem a ver apenas com a maneira pela qual Deus estruturou e ordenou a sociedade, a família e a igreja".
Logo se percebe a importância de 1 Coríntios 11 para a questão desse debate sobre a ordenação feminina. A mulher deve estar debaixo da autoridade espiritual exercida pelo homem e, ao participar do culto, não pode exercê-la sobre ele. Ao comentar essa passagem, o Dr. Shedd afirma que
"com o véu" (sinal de submissão),
"a esposa protegia sua própria dignidade".
Alguém, então, poderia argumentar que deveríamos voltar a usar o véu como era o caso da igreja em Corinto. Mas o véu, no entanto, era apenas a maneira grega do século I de demonstrar subordinação. Não é necessário usar o véu hoje, mas o princípio da subordinação continua. O apóstolo defende a participação diferenciada da mulher no culto usando argumentos permanentes, que transcendem cultura, tempo e sociedade, como a distribuição ou economia da Trindade
(v.3),
o modo pelo qual Deus criou o homem
(vv.8-9)
e ainda apelando para o costume das igrejas cristãs em geral
(v.16).
Para o Dr. Shedd
"Paulo apela para princípios. Usar ou não véu depende do que significa para a época ou sociedade atual".
Além disso, é bom notar que 1 Coríntios 11 começa lembrando aos leitores que as questões de autoridade, submissão e ordem no culto público deveriam ser tratadas com uma instrução apostólica
(v.2).
O parágrafo termina afirmando que "ser contencioso" (como algumas mulheres de Corinto) não era um "costume" apostólico, nem deveria ser em nenhuma "igreja de Deus"
(v.16).
Uma segunda passagem é encontrada no mesmo livro
(1Co 14.33b-38),
indicando uma seqüência dentro de um mesmo tema: a ordem no culto público.
"... Como em todas as igrejas dos santos. As vossas mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei. E, se querem aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus próprios maridos; porque é vergonhoso que as mulheres falem na igreja" (vv. 33b-35).
A frase, "não lhes é permitido falar", tem conotação de autoridade. Elas podiam falar nos cultos, mas não de forma a parecerem insubmissas, como mostra o verso
34b.
Paulo também cita "a lei", que é o Antigo Testamento. No contexto imediato, Paulo fala do julgamento dos profetas no culto
(v. 29),
o que envolveria certamente questionamentos, e mesmo a correção dos profetas por parte da igreja reunida. Para o professor de Novo Testamento e autor reconhecido internacionalmente, Dr. D. A. Carson há aqui uma alusão à Criação que deve ser observada universalmente. Paulo está possivelmente proibindo que as mulheres questionem ou ensinem os profetas em público. Certamente havia na igreja de Corinto um problema de arrogância jactanciosa por parte de algumas mulheres.
Assim como em
1Co 11.16,
aqui também a determinação de Paulo está de acordo com o espírito cristão em todas as demais igrejas
(14.33b).
Portanto, não é local. Sua ordem está conforme a "lei",
(14.34b)
e deveria ser entendida como um "mandamento do Senhor" e esse mandamento seria prontamente reconhecido pelos "espirituais"
(14.37).
Mais uma vez o Dr. Carson lembra que existe uma seqüência lógica tratada por Paulo desde o capítulo 11 e todo o tempo o apóstolo tem de advertir os coríntios que existe uma prática em todas as igrejas de Deus que deveria também ser observada por eles. Eles estavam tão orgulhosos de suas revelações que já começaram a agir diferentemente do padrão cristão.
"Por que eles deveriam ser diferentes?" pergunta Carson. Na prática os coríntios deveriam se portar como as demais igrejas
(14.33b)
e na teologia também
(14.36),
pois Deus não teria dado uma doutrina diferente para aquela igreja em especial. Paulo, assim, não estaria estabelecendo um padrão apenas para aquela igreja, mas lembrando-lhe de que ela deveria seguir um padrão já estabelecido em todas as demais igrejas. O Dr. Russell Shedd, por sua vez, é muito objetivo ao comentar essa passagem. Para ele,
"muitos dos abusos na igreja se devem às mulheres, geralmente mais dominadas por experiências psíquicas".
Carson acredita que essas instruções são "para o nosso bem".
Uma terceira passagem é
1 Timóteo 2.11-15.
Aqui vemos a palavra de Paulo para que "a mulher aprenda em silêncio, com toda a sujeição". A ordem apostólica não permite "que a mulher ensine, nem que exerça autoridade sobre o homem"
(vv. 11-12).
O apóstolo escreveu para instruir Timóteo a combater uma perigosa heresia que havia se infiltrado na igreja de Éfeso. Os falsos mestres estavam ensinando que a prática ascética era um meio para se alcançar uma espiritualidade mais elevada. Insistiam na abstinência de certas comidas, do casamento e do sexo em geral
(1Tm 1.3-7;
4.1-3;
6.4-5;
cf.
2Tm 2.14, 16-17, 23-24).
Eles também rejeitavam os papéis tradicionais das mulheres no casamento, e encorajavam-nas a reivindicar papéis iguais na igreja e no lar
(2.15;
4.1-2;
5.14-15).
O texto dá a entender que o ensino desses falsos mestres tinha como porta de entrada as mulheres
(1Tm 5.12,15;
cf.
2Tm 3.6-7).
A palavra "ensinar", em Timóteo, está relacionada com a frase "em posição de autoridade", no sentido restrito de instrução doutrinária autoritativa, feita com o peso da autoridade oficial dos pastores
(1Tm 4.11;
6.2;
5.17).
O leitor cuidadoso poderá fazer um estudo mais profundo e comprovar pessoalmente isso. Mas, o que fica evidente, afinal, é que a atitude que o apóstolo exigia das mulheres cristãs de Éfeso era de submissão e silêncio quanto ao aprendizado da doutrina no culto público. Não seria lógico concluir que essa proibição de a mulher exercer autoridade sobre os homens exclui as mulheres do ofício pastoral? De acordo com Paulo, o oficio pastoral está relacionado essencialmente ao ato de governar e presidir a casa de Deus
(1Tm 3.4-5;
5.17).
Não se limita a essa função, mas deve passar por ela.
O contexto de
1 Timóteo 2.11-15
é a instrução de Paulo a Timóteo quanto ao culto público da igreja
(1Tm 2.1-10).
A instrução de Paulo aqui tem força universal, como o próprio texto enfatiza. A ordem apostólica é para que os cristãos orem "por todos os homens"
(2.1),
por "todos os que se acham investidos de autoridade"
(2.2),
visto que Deus quer que "todos os homens sejam salvos"
(2.4).
Assim, os varões devem "orar em todo lugar"
(2.8).
O ensino de Paulo, portanto, tem a ver com "todos os homens... em todo lugar".
(2.8).
Há, ainda, uma disputa sobre os termos gregos gnuaiki e andros. O contexto parece muito mais indicado a explicar que a frase se refere a "mulher e homem" e não a "esposa e marido". Com isso o texto ensina que a mulher não deveria "exercer autoridade sobre um homem" (NVI, RA, etc). Alguns acreditam que se uma mulher estiver em perfeita submissão ao seu próprio marido, então ela está autorizada a ensinar outros homens. Mais uma vez, essa seria uma análise precipitada e, possivelmente, descontextualizada. Douglas Moo (professor de Novo Testamento e conhecido autor), acredita que Paulo autoriza "mulher ensinar outra mulher", com base em
Tito 2.3-4,
mas "as proíbe de ensinar homens". Para o professor, nas epístolas pastorais, as atividades de governo (na igreja) são atribuídas a presbíteros. Claramente, então, a proibição de Paulo de que uma mulher exerça autoridade sobre um homem exclui a mulher de se tornar líder no sentido em que esse ofício é descrito por ele. Desta forma, Moo conclui que uma mulher estaria impedida de ocupar qualquer função em uma igreja que seja equivalente ao ofício de governo eclesiástico descrito por Paulo. Para ele essa conclusão é perfeitamente aplicável em nossos dias, uma vez que o apóstolo tem em mente a Criação e as funções do homem e da mulher que advêm dela e não sua cultura particular.
4. Conclusões e recomendações
Tanto John Piper como Wayne Grudem acreditam que uma verdadeira avalanche de material feminista desabou sobre o mundo e acabou por acertar a igreja também. Naturalmente não com a mesma má índole do mundo. Muitos dentro da igreja têm defendido sua posição em prol da ordenação feminina com as mais íntegras e honestas intenções. Com certeza, no entanto, isso tem causado grande incerteza dentro da igreja, como uma neblina sobre um assunto específico, tirando a clareza de quais papéis os homens e as mulheres devem exercer. Mas o fato é que a maioria dos evangélicos não tem aceitado essa posição, pois rejeitam aquilo que chamam de "o movimento feminista evangélico".
Devemos encontrar uma resposta bíblica que traga o equilíbrio sadio entre homem e mulher, como pessoas distintas diante de Deus. Celebrar a masculinidade e a feminilidade como presentes de Deus para um e para outro. Uma resposta que indique aos homens suas funções e posições como modelos aos filhos, resgatando sua masculinidade bíblica. Assim também as mulheres sabedoras de suas funções como modelos para suas filhas, resgatando sua feminilidade bíblica. As distorções causadas pelo pecado devem ser refutadas e, homem e mulher, devem ter um santo orgulho de serem o que são como dádiva de Deus ao mundo. Wayne Grudem (principalmente conhecido por sua "Teologia Sistemática") está certo quando comenta o texto de
1 Pedro 3.1-7
e faz o alerta de que está mais do que na hora das "mulheres serem como Sara e os homens honrá-las assim". O assunto da ordenação feminina pode ter como raiz a distorção dos papéis inicialmente concedidos por Deus a homens e mulheres.
É evidente que há elementos no Novo Testamento que pertencem à cultura do século I. A função do exegeta é descobrir nelas o princípio permanente para então aplicá-lo no contexto contemporâneo. É a ponte construída entre o mundo bíblico e o mundo atual. As passagens de 1 Coríntios 11.2-16, 14.34-35 e 1 Timóteo 2.11-12 têm um princípio permanente para que se mantenham distintamente os papéis inerentes ao homem e à mulher na igreja e na família. Assim, não devemos inverter os papéis. A mulher não deve ocupar posição de autoridade sobre os homens, mas deve observar de maneira análoga seu papel como o da Igreja, que está submissa ao Senhor. Ela tem liberdade, usa seus dons e talentos e ainda tem suas preferências, mas, em última análise, deve ouvir ao Senhor.
Definitivamente Paulo não instrui sobre esse assunto tendo como base considerações condicionadas culturalmente. Seu apoio é basicamente feito de princípios inerentes à própria humanidade, enraizados na Criação. Ele sempre apela às Escrituras (Antigo Testamento), demonstrando que a origem dos papéis próprios do homem e da mulher não estão fundamentados nas questões transitórias das igrejas e muito menos em algum aspecto cultural, mas teológico, que envolve Deus e a Criação. É bem provável que o mundo dos apóstolos estava distante cerca de 4 mil anos do evento da Criação. Talvez alguém pudesse alegar que os tempos haviam mudado e o cristianismo deveria estabelecer novos critérios culturais, mas o apelo dos apóstolos às Escrituras mostra que havia um princípio permanente estabelecido por Deus que transcendia as épocas.
Assim, é difícil encontrar respaldo bíblico explícito e suficiente para que se recebam mulheres ao pastorado, onde irão presidir, governar, e ensinar doutrina aos homens. Por isso, nenhuma autoridade contemporânea pode criar seus argumentos a partir das mudanças sociais para ir além da Escritura ou ainda contradizê-la. É necessário grande temor no coração para não cair em alguma falácia. É verdade que muitas mulheres exerceram papel importante na vida de Cristo (como em Lucas 8) e dos apóstolos, como, Priscila
(Atos 18.2;
Rm 16.3-5);
Maria
(Rm 16.6);
Trifena, Trifosa e Pérside
(Rm 16.12);
Febe
(Rm 16.1),
Evódia e Sínteque
(Fp 4.2-3),
et alii, mas a Bíblia nada fala sobre serem pastoras. Cada igreja local deve, portanto, analisar com critério o papel da mulher no ministério, dando a ela honra, respeito e espaço para exercer seus dons. Há muito trabalho preparado por Deus que pode e deve ser feito por mulheres piedosas. O Senhor as capacitou e a história tem dado demonstração abundante dessa verdade.Todo esse trabalho pode ser feito, com o digno sustento, inclusive, mas é precário afirmar ou insistir que deva ser oficializado com um título que carece de mais apoio escriturístico.
5. Referências
Grudem, Wayne: Teologia Sistemática
Keener, Graig S.: Paul, Women & Wives
Lopes, Augustus Nicodemus: O que o Novo Testamento Fala sobre Ordenação Feminina.
Piper, John: Recovering Biblical Manhood and Womanhood.
Shedd, Russell P.: A Bíblia Shedd. Vida Nova.
* Jaime Augusto Cisterna é pastor batista, pastoreando atualmente a Igreja Batista Mineira de Belo Horizonte - MG.
|