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Livros Apócrifos - Parte 3 de 3
Autor: Walter Andrade Campelo
Apócrifos do Novo Testamento
Praticamente todos os textos apócrifos do Novo Testamento são pseudo-epígrafes, ou seja, são textos que clamam ter sido escritos por alguém que não os escreveu. Dividem-se em várias categorias, como evangelhos da infância, evangelhos judeu-cristãos, evangelhos rivais aos canônicos, visões, cartas, textos gnósticos, etc.
Evangelhos da Infância
A falta de informação sobre a infância de Jesus nos evangelhos canônicos levou os primeiros Cristãos a uma fome por mais detalhes sobre a juventude de Jesus. Esta fome fez com que no 2º século e depois, alguns escrevessem contando lendas sobre este período da vida do Senhor, nenhum deles canônico, mas certamente populares em seu tempo e depois, sendo que ainda hoje vemos reflexos de seu conteúdo na religiosidade popular.
- Proto-evangelho de Tiago - Também chamado de Evangelho de Tiago, ou Evangelho de Tiago da Infância, foi escrito provavelmente em torno de 150 d.C. O documento se apresenta como tendo sido escrito por Tiago, passando por Tiago o Justo, irmão de Jesus. O livro contém três partes de oito capítulos cada, iniciando-se com a estória do nascimento e infância de Maria e consagração ao templo, a segunda parte conta a crise causada por Maria se tornar mulher e, portanto sua iminente contaminação do templo e a designação de José como seu guardião e os testes de sua virgindade, e por fim relata o nascimento de Jesus em uma caverna, com a visita de parteiras, escondendo Jesus de Herodes o Grande em uma manjedoura, e também o martírio de Zacarias pai de João o Batista durante o massacre das crianças, e como João o Batista e sua mãe foram escondidos de Herodes Antipas nas montanhas.
- Evangelho de Tomé da Infância - Não deve ser confundido com o Evangelho de Tomé. O autor deste evangelho é desconhecido. A data provável de sua escrita está entre 80 e 185 d.C. e descreve a vida do menino Jesus, com eventos extravagantes sendo alguns deles malévolos. Em um dos episódios Jesus está fazendo pássaros de barro, os quais em seguida ganham vida. Este ato é também atribuído a Jesus no Corão. Em outro episódio uma criança espalha a água que Jesus está juntando. Jesus então amaldiçoa a criança que murcha até morrer.
- Evangelho do Pseudo-Mateus - Também chamado de Nascimento de Maria e Infância do Salvador, ou de Evangelho de Mateus da Infância. É uma composição em latim do 4º ou 5º século d.C. Este texto tem autoria, mas clama ter sido escrito por Mateus e traduzido por Jerônimo. O seu conteúdo é basicamente uma reprodução editada do Proto-evangelho de Tiago, seguida da fuga para o Egito, e de uma reprodução editada do Evangelho de Tomé da Infância. É nele que primeiramente se menciona um boi e um burro como estando presentes no nascimento de Jesus.
- Evangelho Arábico da Infância - Foi compilado, provavelmente, no 6º século d.C. e se baseia no Evangelho de Tomé da Infância e no Proto-evangelho de Tiago. Consiste de três partes: O nascimento de Jesus, os milagres durante a fuga para o Egito e os milagres de Jesus como menino. Partes da narrativa deste evangelho, especialmente a segunda parte (os milagres no Egito), também podem ser encontrados no Corão.
- Outros evangelhos da Infância - A Vida de João o Batista, supostamente escrito pelo bispo Serapião em 390 d.C. e A História de José o Carpinteiro, provavelmente composto no 5º século d.C. no Egito.
Evangelhos Judeu-Cristãos
Alguns grupos dentre os primeiros Cristãos mantinham uma forte submissão ao judaísmo, especialmente à lei mosaica, os quais o apóstolo Paulo chamou de judaizantes, acabaram por criar evangelhos segundo suas próprias crenças.
A maior parte destes escritos sobrevive apenas como comentários críticos produzidos por pessoas da cristandade paulina, que eram Cristãos que seguiam os ensinos do apóstolo Paulo, também tratados em
I Coríntios 1:12
e
3:4
como "os que são de Paulo".
- Evangelho dos Hebreus - Este evangelho, composto em hebraico, está perdido exceto por algumas citações de Epifânio, um escriba da igreja que viveu no final do 4º século d.C. Este evangelho era também conhecido por Jerônimo, que afirma em um de seus escritos que o estava traduzindo para o grego. Sua data e autoria são desconhecidas, apesar de alguns o atribuírem ao próprio Mateus.
Em geral, segue o conteúdo do Evangelho canônico de Mateus, mas com algumas divergências importantes. Um dos pontos de maior distinção é que ele referencia o Espírito Santo como sendo a mãe de Jesus, coloca Tiago, o Justo, como cabeça da igreja de Jerusalém, e se concentra em exortar para uma estrita obediência à lei judaica. Também altera a oração do Senhor, substituindo o "pão nosso de cada dia", por "pão para amanhã".
Epifânio, em seu trabalho afirma:
Eles dizem que Cristo não foi o primogênito de Deus o Pai, mas criado como um dos arcanjos... que ele domina sobre os anjos e sobre todas as criaturas do Todo-Poderoso, e que ele veio e declarou em seu Evangelho, o qual é chamado Evangelho segundo Mateus, ou Evangelho segundo Mateus aos Hebreus, dizendo: "Eu vim para fazer com que cessem os sacrifícios, e se vós não cessardes com os sacrifícios, a ira de Deus sobre vós não cessará".
- Evangelho dos Nazarenos - Aparentemente deriva do Evangelho dos Hebreus, com poucas diferenças. Quanto à data e local de escrita há muita controvérsia, mas como Clemente usou o livro no final do 2º século, ele é certamente mais antigo que isto. O local de escrita mais cotado é Alexandria no Egito.
- Evangelho do Ebionitas - Este evangelho tem grande afinidade com o Evangelho dos Hebreus e com o dos Nazarenos. Como os outros dois ele também somente sobrevive em pequenos fragmentos encontrados em citações de autores dos primeiros séculos. Epifânio ressalta algumas diferenças entre o Evangelho dos Ebionitas e o Evangelho dos Nazarenos. Segundo ele os Nazarenos eram considerados como parte da cristandade ortodoxa, enquanto o Ebionitas eram considerados hereges, especialmente por rejeitarem o nascimento virginal de Jesus. Neste evangelho Jesus aparece como sendo vegetariano, e somente no batismo recebe sua "parte divina".
Evangelhos rivais dos Evangelhos canônicos
Muitas versões alternativas, grandemente editadas, de evangelhos existiram durante os primórdios do Cristianismo. Estas alterações normalmente serviam para dar suporte a alguma visão religiosa particular, em geral, considerada herética pela igreja primitiva.
- Evangelho de Marcion - Também conhecido como Evangelho do Senhor foi um texto usado em meados do segundo século por Marcion excluindo os outros evangelhos. Este evangelho sobrevive apenas em citações de seus críticos, contudo é possível através destas citações se reconstruir praticamente todo o seu texto original. Este evangelho se baseia no Evangelho canônico de Lucas, tendo sido editado para se acomodar à teologia de Marcion, por exemplo, os dois primeiros capítulos de Lucas, sobre o nascimento de Jesus e o início em Cafarnaum foram eliminados e foram feitas modificações no restante para acomodar o Marcionismo, por exemplo, em
Lucas 10:21
temos "Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra", em Marcion se lê: "Graças dou, Pai, Senhor do céu", destacando a visão gnóstica de que a terra é má, logo, Deus não é seu Senhor.
- Evangelho de Mani - Este evangelho escrito por Mani, um persa que viveu no 3º século d.C. Ele tentou fazer uma síntese das correntes religiosas de sua época: cristianismo, zoroastrismo e budismo, produzindo com isto um novo evangelho. O texto se parece mais com um comentário dos evangelhos do que uma nova testemunha. Mani, afirma ser profeta e apóstolo, como em: "Eu, Mani, o Apóstolo de Jesus o Amigo, pela vontade do Pai, o verdadeiro Deus, por quem comecei...".
Evangelhos de Logia (ou de dizeres, frases e parábolas curtas)
- Evangelho de Tomé - Não deve ser confundido com o Evangelho de Tomé da Infância. Este é um evangelho gnóstico que foi encontrado em 1945 nas cavernas de Nag Hammadi, em um manuscrito copta. Diferentemente dos evangelhos canônicos, este não traz uma narrativa conectada aos dizeres atribuídos a Jesus. É apenas uma coleção de dizeres e parábolas que teriam sido proferidos por Jesus, alguns diálogos com o Senhor, e dizeres que alguns dos discípulos teriam reportado a Tomé, chamado Dídimo. A obra consiste de 114 dizeres atribuídos a Jesus, alguns dos quais lembram as falas do Senhor nos evangelhos canônicos. No 4º século, Cirilo de Jerusalém mencionou o Evangelho de Tomé, nos seguintes termos: "Não permita que ninguém leia o evangelho segundo Tomé, porque esta obra, não é de um dos doze apóstolos, mas de um dos três perniciosos discípulos de Mani". Contudo, os textos em Nag Hammadi são certamente mais antigos que a época de Mani. Os críticos tendem a datar este Evangelho no final do primeiro século.
Em um de seus ditos (v.70) encontramos Jesus dizendo que a salvação está no interior do ser humano: "Se colocardes para fora o que está em vosso interior, o que tendes vos salvará. Se não o colocardes para fora, o que tendes em vosso interior vos matará". No v.3, temos: "O Reino de Deus está dentro de vós".
Escritos como este evangelho são certamente a razão para a igreja ter buscado estabelecer de forma oficial o cânon do Novo Testamento. Estabelecendo a crença na morte e na ressurreição do Senhor como o coração da mensagem proclamada pela Igreja desde o seu início no livro de Atos dos Apóstolos.
- Evangelho de Felipe - É um evangelho gnóstico datado do 2º ou 3º século, de autor desconhecido. Similarmente ao evangelho gnóstico de Tomé este também é um evangelho de dizeres, ou falas atribuídas ao Senhor, algumas das quais lembram as palavras do Senhor encontradas nos evangelhos canônicos. Entre seus ditos encontramos: "Aquele que tem o conhecimento da verdade é um homem livre, mas o homem livre não peca, porque 'Aquele que peca é escravo do pecado'. A verdade é a mãe, o conhecimento o pai". E ainda: "Jesus veio para crucificar o mundo".
Evangelhos Morais
Alguns textos tomaram a forma de discursos sobre a moralidade, e em particular sobre a abstinência sexual, normalmente apresentando um debate entre Jesus e um de seus discípulos, estes são os evangelhos morais.
- Evangelho dos Egípcios (em Grego) - Não deve ser confundido com o Evangelho dos Egípcios em Copta, que é uma obra completamente diferente. Este evangelho foi escrito provavelmente na primeira metade do 2º século em Alexandria. Ele foi citado por Clemente de Alexandria. Este evangelho toma a forma de uma conversa entre a discípula de Jesus, Salomé
(Marcos 15:40)
e Jesus, que advoga a causa do celibato, como comenta Cameron: "cada fragmento endossa o ascetismo sexual como meio de quebrar o ciclo letal do nascimento e de superar as diferenças pecaminosas entre o homem e a mulher, permitindo a todas as pessoas retornar ao que foi entendido como seu estado primordial de androgenia" (Cameron 1982).
- Evangelho de Tomé, o contendor - Ou livro de Tomé o contendor, não deve ser confundido com o Evangelho de Tomé. O evangelho se inicia assim: "As palavras secretas que o salvador disse a Tomé, as quais eu, eu mesmo, Matias, escrevi, enquanto andava ouvindo-os falar um com o outro". Este escrito foi achado na biblioteca de Nag Hammadi, no deserto egípcio. Alguns consideram que este livro pode ser o Evangelho de Matias, livro este que estava perdido. Nele Jesus trata Tomé como seu próprio irmão gêmeo, e lhe expõe o tema da moralidade, e particularmente da sexualidade. Jesus segue então mostrando como o celibato oferece a rota para a salvação, e como a paixão sexual é um fogo que causa ilusão, e aprisionamento em um estado de luxúria.
Evangelhos da Paixão
São evangelhos que tratam especificamente da questão da morte e da ressurreição de Jesus.
- Evangelho de Pedro - O evangelho de Pedro é uma narrativa da paixão, que foi bem conhecida no início da história Cristã, mas que desapareceu com o tempo. Hoje é conhecida apenas de ouvir falar, especialmente pela carta de Serapião, bispo de Antioquia de 190 a 203 d.C., referenciada por Eusébio, que afirma o seguinte: "muito dele se enquadra nos corretos ensinos sobre o Salvador, mas algumas partes podem encorajar seus ouvintes a cair na heresia do docetismo".
- Atos de Pilatos - Se inclui como um apêndice ao texto medieval em latim chamado Evangelho de Nicodemos. O texto é provavelmente da metade do 4º século, sendo de autoria desconhecida. A primeira parte do livro relata o julgamento de Jesus, com base em Lucas 23 e a segunda trata da ressurreição. Nele, Lúcio e Carino, duas almas ressuscitadas após a crucificação, relatam ao Sinédrio os acontecimentos da descida de Cristo ao Limbo. O episódio do Angustiante Inferno descreve Dimas (nome dado por este manuscrito ao malfeitor crucificado com Jesus e que recebeu Dele o perdão) acompanhando Cristo no Inferno, e a libertação dos patriarcas do Antigo Testamento que eram justos.
- Evangelho de Bartolomeu - As primeiras referências a este texto foram feitas por Jerônimo e recentemente foram descobertos alguns fragmentos de manuscritos em copta contendo o texto. Este texto contém as visões de Bartolomeu, e os atos de Tomé, mas é predominantemente um texto sobre a paixão e a eucaristia. O texto começa com a crucificação de Jesus, e então passa à ida de Jesus ao inferno, onde encontra com Judas e prega para ele. Jesus resgata todos os que estão no inferno, exceto Judas, Caim e Herodes o Grande. Bartolomeu está presente à cena, e é depois levado ao mais alto nível do céu, de modo a poder ver a liturgia (católica) indo celebrar a ressurreição.
- Questões de Bartolomeu - Não deve ser confundido com o Evangelho de Bartolomeu. O texto sobrevive em cópias em grego, latim e eslovaco antigo, mesmo que cada cópia varie grandemente da outra. O texto apresenta Jesus respondendo aos seus discípulos algumas perguntas formuladas por Bartolomeu. O texto se atém fortemente ao misticismo judaico (tal qual o Livro de Enoque), buscando dar explicações para os aspectos sobrenaturais do Cristianismo. O livro mostra como Jesus desceu ao inferno, por suas próprias palavras, trata da imaculada concepção de Maria, e finalmente, Bartolomeu pede para ver Satanás, e então um coro de anjos arrasta Satanás acorrentado do inferno, mas vê-lo faz com que os apóstolos morram. Jesus então imediatamente os ressuscita e dá a Bartolomeu o controle sobre Satanás. O texto também afirma que a queda do homem foi causada por Eva ter tido relações sexuais com Satanás.
Atos dos Apóstolos de Leucius
São textos que tratam da vida dos apóstolos após a ressurreição de Jesus. Todos atribuídos a Leucius Charinus supostamente um discípulo de João o apóstolo, e que se uniu a este em oposição aos Ebionitas.
- Atos de João - É uma coleção de narrativas e tradições do 2º século d.C. inspirada no evangelho canônico de João. Alguns atribuem sua autoria a Prócoro, um dos diáconos selecionados em Atos 6. Este livro apresenta duas viagens de João a Éfeso, cheias de eventos dramáticos, milagres como o colapso do templo de Ártemis, assim como também apresenta João pregando no teatro para convencer os seguidores de Ártemis. Contém também o episódio da última ceia com a "dança de roda da cruz" que teria sido instituída por Jesus, dizendo: "Antes de eu ser entregue a eles, cantemos um hino ao Pai e assim sigamos a ver o que mente diante de nós", direcionou para que fosse formado um círculo ao redor dele, dando-se as mãos e dançando. Os apóstolos gritaram "Amém" ao hino de Jesus.
- Atos de Paulo - É um dos maiores textos apócrifos do Novo Testamento. Foi escrito no final do 2º século d.C. O texto era composto de:
- Atos de Paulo e Thecla - Neste texto Paulo está viajando a Icônio, proclamando "a palavra de Deus sobre a abstinência, a virgindade e a ressurreição". Thecla, é uma virgem jovem e nobre, que ouve os discursos de Paulo sobre a virgindade de sua janela na casa ao lado. Seu noivo então leva Paulo ao governador que o prende. Thecla vai à prisão para ouvir Paulo, e é então condenada por estar dando ouvidos à questão da virgindade à morte na fogueira, mas nada lhe acontece pois Deus manda um chuva e terremotos para apagar as chamas. A história segue nestes termos, até que Thecla foge para uma caverna (estando ainda virgem) e mora lá por mais 72 anos. Aos 90 anos um homem tenta corrompê-la, mas Thecla consegue escapar e vai a Roma onde é enterrada com Paulo.
- Epístola dos Coríntios a Paulo - Este escrito clama descrever os ensinos de Simão, o mago, incluindo a idéia de que Deus não é Todo-Poderoso, que a ressurreição é falsa, que Cristo não foi Deus verdadeiramente encarnado corporalmente (idéia docetista), que os anjos fizeram o mundo, e que os profetas foram imprecisos.
- Terceira Epístola aos Coríntios - Este texto foi posteriormente separado dos Atos de Paulo. O texto escrito por um Pseudo-Paulo (provavelmente um presbítero cristão em 170 d.C.), é uma resposta à Epístola dos Coríntios a Paulo, e é estruturado para tentar corrigir alguns problemas de interpretação nas Epístolas de I e II aos Coríntios. (canônicas). Em particular a epístola tenta corrigir a interpretação da frase: "a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus" (I Co.15:50), pela qual alguns diziam que a ressurreição não seria corporal.
- O Martírio de Paulo - Texto que retrata a morte de Paulo nas mãos de Nero.
- Atos de Pedro - Este texto da segunda metade do 2º século d.C. relata o miraculoso embate entre Pedro e Simão o mago em Roma. Nele Pedro executa milagres como a ressurreição de um peixe defumado, e fazer cachorros falarem. O texto condena Simão, o mago, antiga figura ligada ao gnosticismo. Algumas versões deste texto também fazem referência a uma mulher (ou mulheres) que prefere a paralisia ao sexo. No Códice de Berlin, a mulher é apresentada como a filha de Pedro. Conclui descrevendo o martírio de Pedro, crucificado de cabeça para baixo.
- Atos de André - É um texto do 3º século d.C. baseado em Atos de João e de Pedro, descreve viagens de André e os milagres que fez durante estas viagens e finalmente uma descrição da forma como supostamente morreu. Como nos outros livros congêneres os milagres são extremamente sobrenaturais, e muito exagerados. Por exemplo, além dos milagres usuais de levantar mortos, curar cegos, e outros, ele sobrevive ao ser jogado aos animais selvagens, acalma tempestades, e derrota exércitos apenas fazendo o sinal da cruz. André também faz com que um embrião resultante de um relacionamento ilegítimo morra. Ao ser crucificado, André ainda é capaz de pregar sermões por três dias.
- Atos de Tomé - Este texto gnóstico do início do 3º século d.C. é apresentado em uma série de episódios, que ocorrem durante a missão evangelística de Tomé à Índia. Termina com seu martírio no qual ele morre perfurado por lanças porque causou a ira do Rei Misdaeus pela conversão de suas esposas e um parente.
Extratos das vidas dos Apóstolos
- Atos de Pedro e André - Este texto não tem uma datação definida, e consiste de uma série de contos curtos de milagres, como quando André cavalga uma nuvem para ir de encontro a Pedro, e Pedro literalmente faz passar um camelo através do buraco de uma agulha. O texto parece ser uma tentativa de continuar os Atos de André e Matias (que faz parte dos Atos de André).
- Atos de Pedro e os Doze - O texto datado do 2º século, é constituído de uma alegoria inicial, semelhante à descrita no Evangelho de Mateus, do negociante de pérolas
(Mateus 13:44ss.)
mas que aqui está vendendo uma pérola de grande valor. O negociante é evitado pelos ricos, mas os pobres vão a ele em grande quantidade, e descobrem que a pérola está guardada na cidade natal do negociante, "Nove Portões", e aqueles que quiserem a pérola deverão empreender a dura viagem até Nove Portões. O nome do negociante é Lithargoel, que traduzido é pérola, ou seja, o próprio negociante é a pérola. Por fim, o negociante se revela como sendo o próprio Jesus.
- Atos de Pedro e Paulo - Este é um texto tardio, do 4º século, que conta a lenda da viagem de Paulo da ilha de Guadomelete para Roma, apresentando Pedro como sendo irmão de Paulo. Também descreve a morte de Paulo por decapitação, uma antiga tradição da igreja.
- Atos de Felipe - Este livro é uma fantasia datada do final do 4º século ou início do 5º século d.C. envolvendo milagres e um suposto diálogo que fez Felipe conquistar muitos convertidos. Termina com a crucificação de Felipe em uma cruz invertida.
Epístolas
Há uma série de epístolas não canônicas, mas escritas no formato de epístolas canônicas, muitas das quais (apesar de espúrias) foram bastante consideradas pela igreja primitiva.
- Epístola de Barnabé - É um apócrifo encontrado no Códice Sinaíticus do 4º século. Não deve ser confundido com o medieval Evangelho de Barnabé. Esta é uma pseudo-epígrafe de autoria desconhecida, provavelmente escrita no início do 2º século. O texto apesar de não ser gnóstico em um sentido heterodoxo, clama a que sua audiência busque um perfeito conhecimento (conhecimento especial). A obra é mais um tratado, ou homilia, que uma epístola. Sua lógica não é das mais primorosas, e sua mensagem não traz novidades. É interessante que a epístola cita o Evangelho de Mateus (canônico) como Escritura, contudo, também cita provavelmente IV Esdras e certamente I Enoque. Em certo ponto parece advogar que o povo Cristão é o único verdadeiro povo da aliança, e que os judeus nunca haviam estado em uma aliança com Deus.
- I Clemente - É uma carta de autoria incerta, endereçada como sendo da "igreja de Deus que está em Roma para a igreja de Deus que está em Corinto". Sua datação tradicional está colocada em 96 d.C. A carta é motivada por uma disputa em Corinto, que excluiu do serviço vários presbíteros, mas já que nenhum foi acusado de problemas morais a carta advoga que foram afastados injustamente. A carta cita em profusão o Antigo Testamento, algumas cartas de Paulo e algumas falas do Senhor Jesus, e está incluída no Códice Alexandrinus do 5º século. Apesar de não conter problemas doutrinários, e de ser lida em várias igrejas, jamais atingiu os requisitos canônicos, especialmente por sua autoria desconhecida.
- II Clemente - Esta homilia foi escrita em Roma em meados do 2º século, sendo uma pseudo-epígrafe que tradicionalmente era atribuída a Clemente de Roma. Suas citações aparentemente derivam do Evangelho dos Egípcios em Grego.
- Epistola dos Coríntios a Paulo - Já tratada acima como parte dos Atos de Paulo.
- Epístola aos Laodicenses - Curta epístola encontrada apenas em algumas edições da Vulgata em latim, e em nenhum manuscrito grego. Ela se faz passar pela epístola de Paulo à igreja de Laodicéia mencionada em sua Epístola aos Colossenses
(4:16),
carta esta perdida, apesar de alguns suporem se tratar da Epístola canônica aos Efésios. É quase que unanimemente considerada uma pseudo-epígrafe, constituindo-se de um pastiche de frases tomadas de epístolas genuínas do apóstolo Paulo.
- Pseudo-Correspondência entre Paulo e Sêneca, o jovem - Consiste de uma série de oito cartas supostamente enviadas pelo filósofo estóico Sêneca, e seis respostas supostamente enviadas pelo apóstolo Paulo. As cartas foram compostas provavelmente na segunda metade do 4º século e tem autoria desconhecida. Baseiam-se na tradição de que tanto Sêneca quanto Paulo estiveram em um mesmo período na cidade de Roma.
- III Coríntios - Já tratada acima como parte dos Atos de Paulo.
Apocalipses
- Apocalipse de Pedro - Não deve ser confundido com o Apocalipse gnóstico de Pedro. Está datado na primeira metade do 2º século, foi considerado canônico por Clemente de Alexandria, mas foi recusado pelo restante da Igreja. Subsiste em apenas dois manuscritos, um em grego e outro e etíope os quais divergem grandemente entre si. O texto tem um estilo literário simples, mas muito apreciado pelos populares em Alexandria. Trata basicamente de uma visão do Céu e do Inferno. Roberts-Donaldson afirma: "O Apocalipse de Pedro mostra impressionante parentesco com a segunda epístola de Pedro... Também apresenta notáveis paralelos com os Oráculos de Sibeline... É uma das fontes do escritor do Apocalipse de Paulo... E direta ou indiretamente este texto pode ser considerado como o pai de todas as visões medievais do outro mundo".
- Apocalipse de Paulo - Este texto também é encontrado tendo a Virgem Maria no lugar de Paulo como a pessoa que recebe a revelação. Este texto paralelo é conhecido como o Apocalipse da Virgem. Não deve ser confundido com o Apocalipse gnóstico de Paulo. A narrativa aparenta ser uma elaboração e um rearranjo do Apocalipse de Pedro, inicia-se com um apelo de todas as criaturas contra os pecados da humanidade segue essencialmente descrevendo uma visão do Céu e do Inferno. No final do texto Paulo (ou Maria) consegue persuadir Deus a dar a todos no Inferno um dia de descanso, fora do Inferno, a cada domingo.
- Apocalipse de Tomé - Aparentemente foi composto originalmente em latim em data desconhecida, trata dos sinais do fim do mundo. Parece ser uma curta interpretação do Apocalipse de João. Apresenta os fatos que acontecerão em uma seqüência de seis dias de tormento antes da vinda de Jesus, e no final do sétimo dia se fará paz e os anjos virão à Terra.
- Apocalipse de Estevão - Texto com autoria e datação incertas, descreve um conflito sobre a natureza de Jesus de Nazaré. Estevão aparece em cena e reconta o apocalipse como uma verdade literal. A multidão se insurge contra Estevão e o leva perante Pilatos, a quem Estevão ordena que se cale e que reconheça Jesus. O texto conta que Estevão sendo perseguido por Saulo, foi crucificado, mas solto por anjos, depois foi levado ao Sinédrio onde recontou uma suposta profecia de Natã sobre Jesus, e foi julgado e condenado ao apedrejamento. Sendo levado pela multidão iniciou-se o apedrejamento, quando Nicodemos e Gamaliel tentaram impedir o processo e também foram mortos. Após sua morte, Estevão foi enterrado por Pilatos em um caixão de prata. Pilatos então recebe as visões celestiais de Estevão e se converte.
- I Apocalipse de Tiago - É um texto gnóstico encontrado em Nag Hammadi. A datação e autoria ainda são incertas, mas provavelmente escrito depois do II Apocalipse de Tiago. O texto se apresenta como um diálogo entre Tiago, o justo, irmão de Jesus, e o próprio Jesus. Se inicia tratando do medo de Tiago de ser crucificado, e segue apresentando uma série de senhas dadas por Jesus a Tiago de modo a que ele chegasse até o mais alto dos céus (são 72) após morrer, sem ser bloqueado pelos poderes do mal do demiurgo (segundo os gnósticos o ser que intermediou a criação).
- II Apocalipse de Tiago - Escrito provavelmente durante o 2º século d.C. esteve perdido até ser reencontrado em Nag Hammadi. O texto é claramente gnóstico, apresentando um beijo na boca que Jesus teria dado em Tiago, metáfora para a passagem da gnose entre duas pessoas (deixa claro que não se trata de um relacionamento homossexual). O texto termina com a horrível morte de Tiago por apedrejamento, provavelmente refletindo uma antiga tradição sobre sua morte.
Livros dos Pais da Igreja
Enquanto a maior parte dos livros tratados até aqui tenham sido considerados heréticos (especialmente aqueles de tradição gnóstica), outros não foram considerados como sendo particularmente heréticos em seu conteúdo, em muitos casos sendo bem aceitos como obras com alguma significância espiritual. Eles, contudo, não foram considerados canônicos, mas pertencem à categoria de escritos dos pais da Igreja.
- I Clemente - Já citada acima.
- O Pastor de Hermas - Ou simplesmente "O Pastor". É uma obra Cristã do 2º século, considerada um livro valioso por muitos Cristãos, tendo sido considerada como canônica por alguns pais da igreja. Alguns atribuem sua autoria a Hermas (Rm.16:14). Mas, há grande controvérsia a este respeito. Trata-se de uma alegoria Cristã consistindo de cinco visões dadas a Hermas, um ex-escravo, seguidas de doze mandamentos, e dez parábolas. Apesar da seriedade dos assuntos tratados, o livro foi escrito em um tom otimista e esperançoso, como muitos dos escritos dos primeiros Cristãos. Tem vários e sérios problemas, especialmente quanto à questão da Trindade, e à noção de que a Igreja é uma instituição necessária à salvação.
- Didaquê - Antes considerado como perdido, o Didaquê, ou Ensino dos Apóstolos, foi redescoberto em 1883 no Códice Hierosolymitanus de 1053. O texto foi provavelmente escrito já no 1º século, mas tem autoria incerta. O conteúdo pode ser dividido em quatro partes: Os dois caminhos, o caminho da vida e o caminho da morte (1-6), rituais de batismo, jejum e comunhão (7-10), o ministério e como lidar com os ministros itinerantes (11-15) e um breve apocalipse (16). Há no texto, tal qual o recebemos, claros sinais de que foi editado posteriormente para se adequar a certas questões eclesiológicas, como o batismo por aspersão.
Evangelhos Harmônicos
Alguns textos buscaram prover uma harmonização dos evangelhos canônicos, tentando apresentar, de alguma forma, um texto unificado. Entre estes textos o mais conhecido é o Diatessaron:
- Diatessaron - Escrito por Taciano em 175 d.C. foi a mais proeminente harmonização dos quatro evangelhos, ou seja, o material dos quatro evangelhos escritos de modo a formar uma única narrativa. Somente 56 versos dos Evangelhos canônicos não tiveram uma contrapartida no Diatessaron, sendo que a maior parte das exclusões se deve às duas genealogias de Jesus em Mateus e Lucas, juntamente com o relato sobre a mulher adúltera em João 7:53-8:11. Contudo, a seqüência da narrativa do Diatessaron é substancialmente diferente da encontrada em qualquer dos evangelhos.
Livros Perdidos
Há muitas obras e textos que são mencionados em algumas fontes antigas, mas que nenhuma parte conhecida do texto sobreviveu.
- Evangelho de Matias
- Evangelho dos Quatro Impérios Celestiais
- Evangelho da Perfeição
- Evangelho de Eva - Uma citação deste evangelho é dada por Epifânio. É possível que este seja o Evangelho da Perfeição que ele trata em outra parte. A citação mostra que este evangelho era a expressão de um completo panteísmo.
- Evangelho dos Doze
- Evangelho de Tadeu - Alguns entendem ser este um sinônimo para o Livro de Judas.
- Memória Apostólica
- Evangelho dos Setenta
- Lápide dos Apóstolos
- Livro dos feitiços das serpentes
- Porção dos Apóstolos
Outros Escritos
Há muitos outros escritos de importância menor, muitos textos gnósticos, e ainda orações, sermões, liturgias e penitências, que não foram citados neste trabalho.
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