Lâmpada para os meus pés é tua palavra, e luz para o meu caminho. (Salmo 119:105) Convenção Batista Brasileira
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O Falar Em Línguas, Hoje - Parte 1 de 4

Autor: Walter Andrade Campelo

Introdução

Estabelecendo a supremacia da palavra de Deus

Este estudo se propõe a tratar objetivamente o dom de línguas, e suas aplicações e implicações nos dias de hoje... Para este estudo, bem como para qualquer outro assunto referente à religião, à vida, ao nosso relacionamento com Deus, devemos ter a Sua Santa Palavra como autoridade máxima, absoluta e final.

Os verdadeiros Cristãos têm na Bíblia Sagrada, a palavra de Deus, sua única regra de fé e prática, isto implica que tudo o que cremos e tudo o que fazemos está pautado pela palavra de Deus. Neste cenário, não cabe discussão, quando a palavra de Deus estabelece algo, isto é final, é a palavra de Deus:

"Mas o SENHOR está no seu santo templo; cale-se diante dele toda a terra." (Habacuque 2:20 ACF1)

Há algum ser humano que possa contradizer a palavra de Deus? Alguém se julga capaz de contradizer o que o Deus Todo-Poderoso, o Senhor do Universo, está dizendo? Não, nunca, nenhum ser humano pode contradizer a Deus: Somos fracos demais, limitados demais, corruptos demais, para isto.

Assim, em circunstância alguma podemos colocar a experiência humana, ou a palavra de homens, por mais espiritual que possa nos parecer, acima dos ensinos bíblicos; e assim sigamos adiante:

"Tende cuidado, para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo;" (Colossenses 2:8)

Dons do Espírito Santo

Muitos têm confundido talento natural, ou capacidade inata, ou ainda um grande desejo de realizar uma determinada tarefa, com dons do Espírito Santo. Outros ainda buscam determinados, por dons do Espírito Santo, deixando de levar em conta que quem os dá é o próprio Espírito Santo e de acordo com a Sua vontade:

"Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer." (I Coríntios 12:11)

Os dons do Espírito Santo são algo distinto e específico, não vinculado à vontade do homem:

"(7) Mas a graça foi dada a cada um de nós segundo a medida do dom de Cristo... (11) E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, (12) Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo; (13) Até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo." (Efésios 4:7, 11-13)

É imperioso que tenhamos em nossas mentes uma clara noção do que vem a ser dom do Espírito Santo, qual sua função e necessidade e, portanto, sua ocasião.

O dom é assim, um talento potencializado pela ação do Espírito Santo, ou uma capacidade concedida por Sua ação, utilizado para a edificação do corpo de Cristo, para a obra do ministério, sendo dado a cada um dos crentes na "medida do dom de Cristo", e de acordo com a Sua vontade. (v.11)

Há dons que nos parecem naturais, como os dons de ensino e pregação do evangelho, e outros dons que são miraculosos, como curas e línguas. Mas, em nenhum caso, mesmo no dos dons que nos pareçam naturais, estes devem ser confundidos com talentos naturais, que são habilidades carnais para a execução de tarefas, pois se assim procedermos teremos, como infelizmente temos visto com alguma freqüência, pessoas que nada tem a ver com o Espírito Santo recebendo livre acesso ao corpo de Cristo, causando enorme destruição, discórdia e divisão.

Devemos, portanto, tratar da questão dos dons com a mais absoluta seriedade, e sempre discernindo os espíritos, isto, sempre provando o que nos é apresentado, se vem ou não de Deus:

"Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo." (I João 4:1)

Não nos enganemos, devemos sim estar julgando todas as coisas:

"Não sabeis vós que havemos de julgar os anjos? Quanto mais as coisas pertencentes a esta vida?" (I Coríntios 6:2)

E devemos tirar do nosso meio tudo o que for impuro, tudo o que não proceda de Deus. Pois toda ação da Igreja deve ser para que se apresente santa e irrepreensível2 diante de Cristo. Nada menos.

Definindo a palavra "língua" no contexto do Novo Testamento

Antes de qualquer estudo, é fundamental a definição dos termos, ou palavras, que serão abordados, bem como um claro entendimento das circunstâncias em que estes termos são utilizados e o seu significado dentro de cada contexto específico. Assim, torna-se absoluta prioridade estudarmos o termo "língua", ou o seu plural, "línguas", em cada uma de suas ocorrências no Novo Testamento, tendo como base de estudo o seu significado na língua original em que foi escrito o Novo Testamento: o grego koiné. Existem algumas palavras gregas, no Novo Testamento, que foram traduzidas para o português como "língua", vejamos:

  1. Língua Hebraica (ebraisti - Hebraisti ou ebraikov - Hebraikos):
    1. João 5:2;
    2. Apocalipse 16:16.
    • No léxico de Strong:
      1. em Hebreu, ou seja, em Caudeu.
  2. Língua Grega (ellhnikov - Hellenikos):
    1. Lucas 23:38;
    2. Apocalipse 9:11.
    • No léxico de Strong:
      1. grego
  3. Língua Latina (rwmaikov - Rhomaikos):
    1. Lucas 23:38;
    • No léxico de Strong:
      1. a língua falada pelos Romanos.
  4. Língua Licaônica (lukaonisti - Lukaonisti):
    1. Atos 14:11;
    • No léxico de Strong:
      1. na fala ou língua da Licaônia.
  5. Língua dobre (pessoa de duas palavras) (dilogov - dilogos):
    1. I Timóteo 3:8;
    • No léxico de Strong:
      1. dizer a mesma coisa duas vezes, repetição.
      2. língua dupla, duplicidade de discurso, dizer uma coisa a uma pessoa e outra com outra pessoa (com a intenção de enganar).
  6. Outra língua (eteroglwssov - heteroglossos)
    1. I Coríntios 14:21;
    • No léxico de Strong:
      1. alguém que fala uma língua estrangeira.
  7. Língua humana existente (dialektov - dialektos):
    1. Atos 2:6;
    2. Atos 2:8.
    • No léxico de Strong:
      1. conversação, fala, discurso, linguagem.
      2. a língua ou linguagem peculiar a qualquer povo.
  8. Parte do corpo humano ou a linguagem de um povo (glwssa - glossa):
    1. Língua humana existente: Atos 2:4, 11, 26; I Coríntios 13:1, 8; 14:26;
    2. Atributo de nacionalidade (língua do país ou do povo): Apocalipse 5:9; 14:6;
    3. Ato de falar: I Coríntios 14:9; I João 3:18; Tiago 1:26;
    4. Órgão do corpo: Atos 2:26; Romanos 14:11; I Pedro 3:10; Apocalipse 16:10;
    5. Língua humana existente, porém não conhecida pela audiência: I Coríntios 14:2, 4, 13, 14, 19, 27.
    • No léxico de Strong:
      1. A língua, um membro do corpo, um órgão da fala.
      2. Uma língua.
      3. A linguagem ou dialeto usado por um povo em particular, distinto do de outras nações.
    • No léxico de Liddell & Scott:
      1. Língua
        1. Laringe, glote.
        2. Língua como o órgão da fala, com a preposição "apo" = franqueza no falar; verbalmente, oralmente; com "ouk apo" falar através de argumentação;
        3. Orador fluente.
        4. A advocacia do fisco.
      2. Linguagem; falar uma língua ou dialeto; dialeto;
        1. palavra estrangeira ou obsoleta, que necessite de explicação. De onde vem a palavra portuguesa "glossário";
        2. língua falada por um povo em particular.
      3. qualquer coisa que tenha o formato de língua. (Atos 2:3)
        1. em música, a cana ou lingüeta de uma flauta;
        2. língua de couro do sapato;
        3. língua de terra, península;
        4. lingote de metal (aço, ferro, ouro, etc.)

Neste ponto faz-se mister assinalar e destacar que em nenhum léxico ou dicionário grego, quaisquer das palavras gregas, traduzidas para o português como "línguas", têm o significado de um falar em êxtase ou falar uma língua ou dialeto que não seja inteligível por um povo. Assim, das ocorrências da palavra "língua" ou "línguas", no Novo Testamento, podemos certamente afirmar que, quando esta palavra se refere a uma linguagem, é sempre, invariavelmente, uma língua3 humana falada e entendida por algum povo.

Também é importante registrar que a palavra portuguesa "glossolalia" utilizada para representar a prática atual do "falar em línguas", tão comum em meios pentecostais e neopentecostais, tem o seguinte significado conforme o dicionário Houaiss:

  1. Suposta capacidade de falar línguas desconhecidas quando em transe religioso.
  2. Distúrbio de linguagem observado em certos doentes mentais que crêem inventar uma linguagem nova.

Esta palavra vem de duas palavras gregas: glwssa + lalia (glossa + lalia) que ao pé da letra significam "língua + falar", e que em momento algum aparecem juntas no Novo Testamento.

A palavra (lalia) é encontrada no Novo Testamento em duas passagens:

"E, daí a pouco, aproximando-se os que ali estavam, disseram a Pedro: Verdadeiramente também tu és deles, pois a tua fala te denuncia." (Mateus 26:73)

"Mas ele o negou outra vez. E pouco depois os que ali estavam disseram outra vez a Pedro: Verdadeiramente tu és um deles, porque és também galileu, e tua fala é semelhante." (Marcos 14:70)

E como pode ser observado nos versos acima, não há qualquer conjunção ou combinação da palavra "lalia", em suas ocorrências no Novo Testamento, com a palavra "glossa".

Existe, contudo, uma conjunção da palavra "glossa" que é encontrada, por exemplo, em I Coríntios 14:2, conforme segue:

"Porque o que fala em língua desconhecida não fala aos homens, senão a Deus; porque ninguém o entende, e em espírito fala mistérios." (I Coríntios 14:2)

"o gar lalwn glwssh ouk anqrwpoiv lalei alla tw qew oudeiv gar akouei pneumati de lalei musthria" (I Coríntios 14:2 TR4)

lalew + glwssa (laleo + glossa) significa ao pé da letra, "falar com uma língua". Esta conjunção apesar de próxima à conjunção de "glossa" + "lalia", não tem a mesma conotação que glossolalia, e não pode ser entendida como se fosse uma ocorrência desta combinação de palavras. Ante estas constatações, podemos com segurança afirmar que não há qualquer ocorrência, no Novo Testamento grego, de glossolalia.

Outro ponto importante a se ter em mente é que o Cristianismo não admite "transe religioso" (prática comum em várias religiões pagãs), nossa religião exige entendimento, clareza de raciocínio, discernimento, temperança (moderação, autodomínio), conhecimento e firmeza, conforme pode ser entendido dos textos abaixo:

"Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento." (Marcos 12:30)

"Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional." (Romanos 12:1)

"Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. (15) Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido." (I Coríntios 2:14-15)

"E vós também, pondo nisto mesmo toda a diligência, acrescentai à vossa fé a virtude, e à virtude a ciência, (6) E à ciência a temperança, e à temperança a paciência, e à paciência a piedade, (7) E à piedade o amor fraternal, e ao amor fraternal a caridade. (8) Porque, se em vós houver e abundarem estas coisas, não vos deixarão ociosos nem estéreis no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. (9) Pois aquele em quem não há estas coisas é cego, nada vendo ao longe, havendo-se esquecido da purificação dos seus antigos pecados. (10) Portanto, irmãos, procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição; porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçareis." (II Pedro 1:5-10)

Referências gerais

Ocorrências do falar em línguas
  • O falar em línguas ocorreu no Novo Testamento em 3 ocasiões:
    • Na descida do Espírito Santo no dia de Pentecostes: Atos 2:4
    • Em Cesaréia na casa de Cornélio: Atos 10:46
    • Após a imposição de mãos de Paulo sobre os 12 discípulos em Éfeso: Atos 19:6

Além disto o falar em línguas foi citado na primeira carta do apóstolo Paulo aos Coríntios.

Não ocorrência do falar em línguas
  • Em várias outras ocasiões especiais, não houve o falar em línguas, como por exemplo:
Instruções para o uso do falar em línguas

Continuação: O Falar em Línguas, Hoje - Parte 2 de 4