Lâmpada para os meus pés é tua palavra, e luz para o meu caminho. (Salmo 119:105) Convenção Batista Brasileira
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O Falar Em Línguas, Hoje - Parte 2 de 4

Autor: Walter Andrade Campelo

Definições

Sinais e milagres

Os sinais e milagres sempre foram utilizados com funções específicas:

  1. Fazer com que as pessoas cressem na Bíblia que ainda estava por ser escrita:
  2. "Jesus, pois, operou também em presença de seus discípulos muitos outros sinais, que não estão escritos neste livro. (31) Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome." (João 20:30-31 ACF1)

    "Porque não ousarei dizer coisa alguma, que Cristo por mim não tenha feito, para fazer obedientes os gentios, por palavra e por obras; (19) Pelo poder dos sinais e prodígios, na virtude do Espírito de Deus; de maneira que desde Jerusalém, e arredores, até ao Ilírico, tenho pregado o evangelho de Jesus Cristo." (Romanos 15:18-19)

  3. Dar credibilidade e reconhecimento aos que apregoavam a mensagem:
  4. "Homens israelitas, escutai estas palavras: A Jesus Nazareno, homem aprovado por Deus entre vós com maravilhas, prodígios e sinais, que Deus por ele fez no meio de vós, como vós mesmos bem sabeis;" (Atos 2:22)

    "Rodearam-no, pois, os judeus, e disseram-lhe: Até quando terás a nossa alma suspensa? Se tu és o Cristo, dize-no-lo abertamente. Respondeu-lhes Jesus: Já vo-lo tenho dito, e não o credes. As obras que eu faço, em nome de meu Pai, essas testificam de mim." (João 10:24-25)

    "Então a mulher disse a Elias: Nisto conheço agora que tu és homem de Deus, e que a palavra do SENHOR na tua boca é verdade." (I Reis 17:24)

    "Jesus, pois, operou também em presença de seus discípulos muitos outros sinais, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome." (João 20:30-31)

  5. Marcar uma era de novas revelações para o povo de Deus, ou mudança na forma de ação do Espírito Santo junto ao povo de Deus. (Babel, Dilúvio, Êxodo, o Ministério de Jesus Cristo, Atos dos Apóstolos, Apocalipse, etc.)
  6. É importante que tenhamos em mente que os sinais de Deus ocorrem em determinado momento, para validar Sua mensagem através de um mensageiro Seu, ou para cumprir um propósito específico determinado pelo próprio Deus, e depois desaparecem quando não são mais necessários. Podemos ver claramente este fato ao estudarmos a história de Moisés, de Josué e de Elias. Num determinado momento, Moisés foi capaz de abrir um caminho seco através das águas, de modo que o povo de Deus pôde passar a seco pelo Mar Vermelho. De modo similar, Josué pôde abrir as águas do Jordão para que o povo de Deus pudesse atravessá-lo a seco. Em nenhum outro momento o sinal de criar separação de águas ocorreu. O profeta Elias pediu, e Deus fez com que descesse fogo dos céus para queimar o holocausto:

    "Sucedeu que, no momento de ser oferecido o sacrifício da tarde, o profeta Elias se aproximou, e disse: O SENHOR Deus de Abraão, de Isaque e de Israel, manifeste-se hoje que tu és Deus em Israel, e que eu sou teu servo, e que conforme à tua palavra fiz todas estas coisas. (37) Responde-me, SENHOR, responde-me, para que este povo conheça que tu és o SENHOR Deus, e que tu fizeste voltar o seu coração. (38) Então caiu fogo do SENHOR, e consumiu o holocausto, e a lenha, e as pedras, e o pó, e ainda lambeu a água que estava no rego." (I Reis 18:36-38)

    Depois desta, não houve mais nenhuma outra ocorrência de Deus enviando fogo dos céus para queimar holocaustos.

    Podemos também observar o momento em que o Sol parou a pedido de Josué:

    "Então Josué falou ao SENHOR, no dia em que o SENHOR deu os amorreus nas mãos dos filhos de Israel, e disse na presença dos israelitas: Sol, detem-te em Gibeom, e tu, lua, no vale de Ajalom. (13) E o sol se deteve, e a lua parou, até que o povo se vingou de seus inimigos. Isto não está escrito no livro de Jasher? O sol, pois, se deteve no meio do céu, e não se apressou a pôr, quase um dia inteiro. (14) E não houve dia semelhante a este, nem antes nem depois dele, ouvindo o SENHOR assim a voz de um homem; porque o SENHOR pelejava por Israel." (Josué 10:12-14)

    A própria Palavra de Deus nos apresenta o fato de ser esta, uma ocorrência única, que nunca mais tornaria a se repetir.

    Estes exemplos, e tantos outros que podemos encontrar através das Escrituras Sagradas, nos mostram de forma inequívoca que os sinais de Deus são isto mesmo, de Deus, utilizados por Ele para fins específicos, em momentos específicos, de acordo somente com Sua soberana vontade, e não pertencem ao homem, nunca pertenceram e nunca pertencerão.

    O que é o falar línguas conforme a Palavra de Deus

    O sinal de línguas foi a capacidade sobrenatural de se falar um idioma estrangeiro sem prévio estudo ou conhecimento deste, e o dom de línguas é a facilidade para se falar vários idiomas diferentes.

    Como vimos no estudo das ocorrências da palavra "línguas" no Novo Testamento, a palavra de Deus nos apresenta estes idiomas, sempre, como idiomas humanos existentes. Por exemplo, quando da descida do Espírito Santo no dia de Pentecostes, os discípulos transmitiram a mensagem do evangelho nas línguas nativas daqueles que os estavam ouvindo (Atos 2:1-11) !

    Paulo ao repreender os coríntios sobre a necessidade de ordem no culto, disse que os indoutos, aqueles sem estudo, não entenderiam os que estavam falando línguas (I Coríntios 14:16 e 23), demonstrando de modo inequívoco que, ao contrário, os doutos, aqueles que tem erudição, poderiam entender, e portanto, os coríntios estavam falando um idioma humano existente e inteligível (pelo menos para aqueles que tivessem cultura suficiente para entendê-lo). Também em I Coríntios 14:21 Paulo, citando Isaías, especifica que "por outros lábios falarei a este povo", descrição esta que também aponta diretamente para uma linguagem humana existente.

    Em I Coríntios 14:18, Paulo afirma categoricamente que falava mais línguas que os coríntios. Ora, Paulo falava hebraico, aramaico, grego, latim, e possivelmente ainda outras línguas mais, como o copta. Mas, eram todas línguas humanas existentes... (Iremos tratar de forma mais detalhada a questão da igreja de Corinto mais abaixo no tópico "O falar línguas em Corinto").

    Reforçando mais uma vez segundo o testemunho da Palavra de Deus, o falar línguas ou é um sinal sobrenatural de falar línguas ou dialetos humanos, existentes, sem que tenham sido previamente estudados, ou como ocorreu na Igreja de Corinto, a capacidade ou a facilidade para falar em várias línguas (diversidade de línguas).

    O sinal miraculoso de línguas ocorreu em 3 circunstâncias no livro de Atos

    "Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra." (Atos 1:8 destaque acrescentado)

    • Jerusalém - Atos 2:4 "E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem."
    • Judéia e Samaria (Cesaréia) - Atos 10:46 "Porque os ouviam falar línguas, e magnificar a Deus."
    • Confins da Terra (Éfeso) - Atos 19:6 "E, impondo-lhes Paulo as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e falavam línguas, e profetizavam."

    O sinal miraculoso de línguas sempre foi um sinal para os judeus que não criam primeiramente no derramamento do Espírito Santo de Deus, e depois não criam que o derramamento do Espírito Santo atingisse também aos gentios e não somente aos judeus.

    O verso 45 de Atos 10 nos mostra este fato:

    "E os fiéis que eram da circuncisão, todos quantos tinham vindo com Pedro, maravilharam-se de que o dom do Espírito Santo se derramasse também sobre os gentios."

    Assim, espantaram-se os judeus, todos os que eram da circuncisão, quando gentios demonstraram os mesmos sinais que os discípulos haviam demonstrado em Jerusalém!

    Em Éfeso (Atos 19:3-20) grande foi a disputa de Paulo para apresentar o Caminho aos judeus ali reunidos. E o falar línguas dos discípulos que lá estavam mostrava a estes judeus que através de "outros lábios" e de "outras línguas" Deus estava lhes falando Sua mensagem:

    "Está escrito na lei: Por gente de outras línguas, e por outros lábios, falarei a este povo; e ainda assim me não ouvirão, diz o Senhor." (I Coríntios 14:21)

    Após estas três ocorrências não há qualquer outra referência ao falar línguas como um sinal de Deus para o seu povo. Surge, contudo, uma outra referência ao falar línguas no Novo Testamento: durante o período de desordem que ocorreu na Igreja de Corinto; Igreja esta que foi exortada pelo apóstolo Paulo a retornar à ordem e à decência, quando de sua primeira carta a ela endereçada.

    O falar línguas em Corinto

    É importante estabelecermos alguns pontos antes de prosseguirmos nesta análise. Primeiramente, quanto ao termo utilizado pelo apóstolo Paulo em sua carta quando se referiu ao falar línguas. A palavra grega utilizada foi "glossa" que, conforme já pudemos estudar, tem os seguintes significados:

    1. A língua, um membro do corpo, um órgão da fala.
    2. Uma língua.
    3. 2.1.   A linguagem ou dialeto usado por um povo em particular, distinto do de outras nações.

    Ou seja, a palavra grega "glossa" no contexto em que foi utilizada pelo apóstolo Paulo tem um único significado: "uma língua estrangeira", ou "uma linguagem de um povo de outra nacionalidade".

    Assim, fica determinado que o que estava acontecendo em Corinto é o falar línguas estrangeiras, línguas de outros povos distintos daqueles que lá habitavam.

    Como exposto acima, esta afirmação corrobora a declaração do apóstolo Paulo no verso 21 do capítulo 14:

    "Está escrito na lei: Por gente de outras línguas, e por outros lábios, falarei a este povo; e ainda assim me não ouvirão, diz o Senhor." (I Coríntios 14:21)

    Bem como, também, o fato de o apóstolo, um pouco antes em sua exortação àquela Igreja, ter afirmado que falava mais línguas que todos os que lá estavam:

    "Dou graças ao meu Deus, porque falo mais línguas do que vós todos." (I Coríntios 14:18)

    Há também o fato de que doutos, ou seja, pessoas de grande cultura, poderiam entender o que diziam os que falavam línguas, indicação assertiva de que eram faladas línguas inteligíveis, ou seja, línguas estrangeiras, com as quais os doutos poderiam ter familiaridade:

    "Se, pois, toda a igreja se congregar num lugar, e todos falarem em línguas, e entrarem indoutos ou infiéis, não dirão porventura que estais loucos?" (I Coríntios 14:23)

    Estabelece-se assim, de forma definitiva, que o falar línguas conforme ocorreu na Igreja em Corinto e do qual o apóstolo Paulo trata em I Coríntios é o falar uma língua estrangeira e humana. E esta é a característica do falar línguas conforme nos apresenta a Palavra de Deus: Falar uma língua estrangeira! Seja diretamente por ação divina (sem que houvesse prévio estudo), como foi descrito em Atos 2, seja pelo dom, dado por Deus, de com facilidade se falar várias línguas, como ocorreu com o apóstolo Paulo (I Coríntios 14:18).

    Ainda como uma confirmação adicional à conclusão acima, temos que Lucas ao escrever o livro de Atos dos Apóstolos, estava com Paulo em seu exílio em Roma. Lucas, quase com certeza, também esteve em Éfeso quando o apóstolo Paulo escreveu sua primeira carta aos coríntios, já que desde Atos 16 Lucas se apresentou como estando ao lado de Paulo em suas viagens. Mas, uma coisa é certa: Lucas tinha conhecimento do conteúdo da carta de Paulo aos coríntios antes de escrever o livro de Atos dos Apóstolos, uma vez que I Coríntios foi escrita por volta de 56 d.C. e Atos somente foi escrito por volta de 61 ou 62 d.C. Este raciocínio foi apresentado aqui pelo fato de Lucas ter-se utilizado em Atos dos Apóstolos da mesma palavra grega, e no mesmo contexto, que Paulo utilizou em I Coríntios para indicar o falar línguas, "glossa":

    "E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas (glossa), conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem." (Atos 2:4)

    E não havendo distinção do termo grego utilizado para um caso ou para o outro, fica estabelecido, também através deste raciocínio, que o falar línguas descrito em I Coríntios tinha esta mesma natureza, ou seja, era o falar um idioma estrangeiro.

    Frente a todas estas evidências, fica definitivamente determinado que o falar línguas descrito pelos textos em I Coríntios não é o falar uma língua "celestial", ou "de anjos" (Veja o Apêndice A sobre este assunto), ou qualquer outra manifestação extática2, mas sim o falar um idioma humano existente e inteligível.

    Propósito do dom de línguas

    O dom de línguas foi dado com o propósito específico de ser um sinal (Marcos 16:17).

    Esta interpretação é confirmada por Paulo quando cita a Isaías em I Coríntios 14:21-22. A passagem citada por Paulo é Isaías 28:11, onde o profeta está repreendendo os bêbados de Efraim que não aceitaram a palavra do profeta, e por esta razão Isaías lhes disse que Deus os faria ouvir através do falar do exército que estava por invadi-los. E isto lhes seria por sinal. Este sinal, o falar línguas estrangeiras, é sempre apresentado pela palavra de Deus como sendo para que judeus incrédulos viessem a crer, tanto no Velho quanto no Novo Testamento. Pode-se verificar que em todos os registros de ocorrência do dom miraculoso de línguas (todas em Atos dos Apóstolos), a audiência era composta de judeus.

    Já no caso específico da Igreja em Corinto, deve-se lembrar que a natureza do falar línguas lá foi diferente, não tendo a característica de milagre, mas sim, de um dom dado por Deus para a obra do ministério e para a edificação do corpo de Cristo, como o são todos os dons:

    "E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, (12) Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo;" (Efésios 4:11-12)

    Mas, se o dom miraculoso de línguas foi um sinal, foi um sinal do quê e para quem? Podemos ver que foi um sinal de confirmação aos judeus da aceitação dos gentios no plano de salvação (Atos 10:45-46; 11:15), isto porque apesar de alguns judeus terem crido em Jesus, não criam na possibilidade de gentios também o crerem, e este foi o propósito dos sinais relatados no livro de Atos.

    Despropósito do dom de línguas

    O dom de línguas, como meio edificação pessoal, é um dos despropósitos sobre o objetivo deste dom. Não há qualquer registro do uso privado do dom de línguas no Novo Testamento. A referência do apóstolo Paulo ao fato daquele que fala em língua desconhecida se edificar a si mesmo, e não à Igreja, é repreensão, declarada e direta ao que assim procede, pois os dons são unicamente para a edificação do Corpo como um todo, e não para uso individual:

    "Assim também vós, como desejais dons espirituais, procurai abundar neles, para edificação da igreja." (I Coríntios 14:12)

    "Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para cumprir todas as coisas. (11) E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, (12) Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo;" (Efésios 4:10-12)

    A edificação pessoal procede da edificação do corpo, uma vez que cada indivíduo é parte do corpo, ao se edificar o corpo edifica-se juntamente cada um de seus membros componentes.

    Outro despropósito observado é o de se alegar que o milagre do falar línguas se deu como meio de facilitar a pregação do evangelho. Em nenhum momento isto foi aventado no Novo Testamento. Ao contrário, após sua ocorrência, os judeus ficaram atônitos com o sinal de línguas! Estes homens eram pelo menos bilíngües, pois entenderam a pregação antes do dom de línguas se manifestar, ou seja, antes de ouvirem os discípulos falarem em sua língua natal. Sendo assim, caso o sinal de línguas, conforme vemos em Atos dos Apóstolos, fosse para ser utilizado com o propósito de pregação, teria sido mantido intacto durante toda a existência da Igreja, se tornando lugar comum até nossos dias, e todos os salvos em Cristo poderiam falar qualquer língua (humana e existente) para a qual houvesse audiência presente.

    Isto não quer dizer que tal milagre não possa ocorrer, ao contrário, Deus é soberano e faz como lhe apraz. Mas, ocorrendo o milagre, será exatamente isto: um milagre de Deus, e não lugar comum, ou qualquer tipo de atestado desta ou daquela condição na vida daquele que se coloca como instrumento para que Deus, através dele, execute o milagre. Deus faz milagres quando quer e através de quem quer. Deus é soberano, Deus é Senhor!


    Continuação: O Falar em Línguas, Hoje - Parte 3 de 4
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