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O Falar Em Línguas, Hoje - Parte 3 de 4

Autor: Walter Andrade Campelo

Cessação do sinal de línguas?

Podemos afirmar com segurança que enquanto um sinal para judeus incrédulos (primeiro atestando a ação direta do Espírito Santo sobre os próprios judeus, e depois atestando que a ação do Espírito Santo não estava restrita somente a judeus, mas que atingia também aos gentios), o sinal miraculoso de línguas desapareceu no primeiro século.

"O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desa-parecerá; (9) Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos; (10) Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado." (I Coríntios 13:8-10) [destaque em negrito acrescentado para ênfase]

Alguns afirmam que esta passagem não pode ser utilizada como base para afirmar-se que o sinal de línguas cessaria em algum momento próximo. Não há pleno consenso quanto a isto, e há argumentos vários em ambas as direções. Mas, independentemente da disputa teológica que se trava em torno desta passagem, ela nos informa, sim, de que o sinal de línguas cessou, pelo menos enquanto milagre de Deus para validação da mensagem bíblica.

Como vimos os sinais de Deus tem funções específicas, e o sinal de línguas teve a função de validar a mensagem dos apóstolos de Jesus Cristo. E isto foi necessário até que se completasse o cânon bíblico, o que ocorreu entre o final do primeiro século e o início do segundo. Neste ponto veio o que é perfeito (I Coríntios 13:9-10), ou seja, a palavra de Deus, inerrante, infalível, dispensando qualquer sinal posterior de validação do seu conteúdo além do milagre de sua própria inerrância e de sua miraculosa preservação pela mão de Deus.

Há aqueles que querem dizer que "o que é perfeito" refere-se a Jesus Cristo, e que esta passagem fala sobre o segundo advento de nosso Senhor. Mas, nos aprofundando no texto grego, vemos que:

"Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado." (I Coríntios 13:10 ACF1)

"otan de elqh to teleion tote to ek merouv katarghqhsetai" (I Coríntios 13:10 TR2)

A construção em grego é neutra, o que descarta a possibilidade de estar tratando de alguém, não é, assim, uma referência a Jesus, nem, como querem alguns outros, ao Espírito Santo, esta construção trata de algo, de um objeto, e não de alguém. Não há outro entendimento possível senão o de que este texto está tratando da palavra de Deus, que ainda estava, à época em que este texto foi escrito, sendo confeccionada.

Na carta aos Hebreus temos:

"Como escaparemos nós, se não atentarmos para uma tão grande salvação, a qual, começando a ser anunciada pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram; testificando também Deus com eles, por sinais, e milagres, e várias maravilhas e dons do Espírito Santo, distribuídos por sua vontade?" (Hebreus 2:3-4)

Esta passagem indica claramente que:

  1. O anuncio da salvação foi confirmado pelos que o ouviram sendo anunciada pelo Senhor.
  2. Os que ouviram testificaram através de sinais, milagres, várias maravilhas e dons do Espírito Santo.

Assim temos que estes dons miraculosos, incluindo aí o sinal de línguas, foram sinais utilizados para autenticar a revelação do evangelho, até que fosse completado o cânon do Novo Testamento, tornando-se, após isto, desnecessários uma vez que já estava ratificada a palavra de Deus junto à Igreja de Cristo. Este fato pode ser visto por haverem traduções feitas já em 150 d.C. que possuíam cânon idêntico ao que hoje encontramos em nossas Bíblias.

Temos assim, através da análise de todas as passagens bíblicas relevantes, que o sinal de línguas foi um acontecimento específico, em um momento específico, com uma finalidade específica; tendo sido extinto por completo após sua ocorrência em Atos 19:6.

Não devemos, contudo, estar aqui descrentes quanto ao poder de Deus em executar milagres! Deus é infinito em poder, Deus não está limitado a nada, e pode fazer, como tem feito, milagres em qualquer época, e por qualquer meio que lhe aprouver, de acordo apenas com Sua soberana vontade; E a nós, criaturas suas, cabe aceitar qual seja o Seu supremo desígnio.

Como exemplo, seria importante citar que há testemunhos da ocorrência de um outro tipo de sinal de línguas, com finalidade distinta da que foi registrada em Atos. Relatam estes testemunhos que em determinadas situações no campo missionário Deus proveu um entendimento miraculoso por parte da audiência do que um pregador falava em uma língua não conhecida por esta.

Este sinal não desrespeita o que já vimos sobre os sinais de Deus, já que tem a função de fazer com que pessoas creiam na Bíblia, em momentos em que não há outro meio de propagação da mensagem. Como um exemplo disto, temos o que foi relatado por marinheiros russos, ainda durante o período da cortina de ferro, quando era extremamente difícil o acesso às pessoas por trás da cortina comunista. Estes marinheiros ouviram um pastor batista brasileiro pregando em inglês, em determinado porto dos EUA, onde atracaram seu navio, mas entenderam o que estava sendo pregado como se estivesse sendo falado em russo, ou seja, o pastor pregava em inglês e os marinheiros ouviam em russo! Milagre de Deus, com propósito divino: Estes três marinheiros se converteram a Jesus Cristo e se tornaram líderes de Igrejas na Rússia.

O dom permanece

Já o dom de falar várias línguas (diversidade de línguas, existentes e inteligíveis, como relatado em I Coríntios) é algo que acompanha algumas pessoas até os dias de hoje, assim como também ocorre com o dom da palavra ou com o dom do ensino ou ainda com o dom de repartir liberalmente o que se tem. Entretanto, mesmo tendo isto em mente, vemos que existem várias passagens, relatando dons espirituais, que foram escritas após 56 d.C., onde o dom de línguas não é mencionado. Vejamos:

"De modo que, tendo diferentes dons, segundo a graça que nos é dada, se é profecia, seja ela segundo a medida da fé; se é ministério, seja em ministrar; se é ensinar, haja dedicação ao ensino; ou o que exorta, use esse dom em exortar; o que reparte, faça-o com liberalidade; o que preside, com cuidado; o que exercita misericórdia, com alegria." (Romanos 12:6-8)

"Cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus. Se alguém falar, fale segundo as palavras de Deus; se alguém administrar, administre segundo o poder que Deus dá; para que em tudo Deus seja glorificado por Jesus Cristo, a quem pertence a glória e poder para todo o sempre. Amém." (I Pedro 4:11)

I Coríntios foi escrita enquanto Paulo planejava mudar-se para Éfeso (I Coríntios 16:8), indicando que o ano era então 56 d.C.

A epístola aos Romanos foi escrita por Paulo em 57 d.C., durante sua permanência de três meses na Grécia (Atos 20:1-3), especificamente em Corinto. Lá Paulo residia com Gaio (Romanos 16:23 e I Coríntios 1:14) e Erasto era o procurador da cidade de Corinto (Romanos 16:23). Especial atenção deve ser dada ao fato desta carta ter sido escrita em Corinto e de não haver nela qualquer menção ao dom de línguas! A inferência direta disto é a de que a Igreja já havia sido exortada e corrigida quanto ao uso indevido e desordenado deste dom!

Já I Pedro foi escrita, provavelmente, pouco antes de se iniciar a perseguição de Nero aos Cristãos em 64 d.C.

Estes fatos nos sugerem que, através do ensinamento do apóstolo Paulo o dom de línguas foi colocado como sendo secundário no seio da Igreja, a qual deu preferência à profecia e ao ensino:

"E eu quero que todos vós faleis em línguas, mas muito mais que profetizeis; porque o que profetiza é maior do que o que fala em línguas..." (I Coríntios 14:5)

E, sendo assim, não haveria mais a pratica deste dom na Igreja, pelo menos não como algo comum. Podemos, entretanto, vê-lo ainda hoje em ação quando, por exemplo, há alguém que tenha a facilidade de aprender línguas, como o italiano ou seus diversos dialetos, e pregar em italiano, ou aprender alemão, e pregar em alemão, e que se disponha a assim agir para glória de Deus e edificação do corpo de Cristo.


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