|
O Falar Em Línguas, Hoje - Parte 4 de 4
Autor: Walter Andrade Campelo
O falar em línguas "moderno"
Descrição
Várias denominações consideram que o falar em línguas descrito pela palavra de Deus , é um falar extático, ou seja, algo que ocorre sem que a pessoa tenha pleno controle do que acontece consigo mesma, ocorrendo em uma espécie de transe. Mas, como já vimos, uma das características do Cristão é o autodomínio, se algo acontece que tira a pessoa do seu estado de sobriedade, de autocontrole, de consciência dos eventos à sua volta, não pode ser atribuído ao Espírito Santo, mas, a outros fatores externos que estão afetando o pleno domínio das faculdades desta pessoa. Na Bíblia em várias ocasiões somos exortados a sermos sóbrios:
"Mas nós, que somos do dia, sejamos sóbrios, vestindo-nos da couraça da fé e do amor, e tendo por capacete a esperança da salvação;" (I Tessalonicenses 5:8 ACF1)
"Portanto, cingindo os lombos do vosso entendimento, sede sóbrios, e esperai inteiramente na graça que se vos ofereceu na revelação de Jesus Cristo;" (I Pedro 1:13)
A palavra sóbrio tem o seguinte significado:
- moderado, contido no comer e no beber ;
1.1 não amante ou dependente de bebidas alcoólicas;
- que não se encontra sob o efeito de bebida alcoólica; não intoxicado por álcool;
- marcado por temperança, equilíbrio, moderação e/ou seriedade; contido nas emoções e caprichos;
- despojado de exibições de poder, cultura, inteligência; de caráter ou comportamento sereno, discreto, recatado;
- destituído de floreios e ornamentos desnecessários.
Atentando para os significados 3 e 4, vemos que há total incompatibilidade entre a ordem bíblica de ser sóbrio e as ações que privam a pessoa de seu autodomínio, de seu controle pessoal. Não há como estar em transe e ser fiel à palavra de Deus ao mesmo tempo, são ações mutuamente excludentes.
Revendo os testemunhos daqueles que apresentam o "dom", vemos que alguns relatam este transe como "flutuar", outros como "estar fora do seu corpo", outros ainda como "estando dominados por um poder superior", e outros como tendo sido possuídos "pelo Espírito Santo", além de vários outros eventos que sempre ocorrem de modo concomitante à ação da glossolalia.
Apenas este testemunho já seria suficiente para descaracterizar a glossolalia como uma obra do Espírito Santo de Deus, mas, continuemos no estudo.
Os que praticam o falar em êxtase afirmam que este falar não se dá em uma linguagem humana existente e inteligível (por exemplo, em alemão, ou em japonês, ou em tupi-guarani), mas, afirmam ser esta uma espécie de linguagem "divina" ou "de anjos", a qual tem na maior parte das vezes um máximo de 10 vocábulos, combinados de umas 20 formas diferentes.
Isto, na verdade, está muito longe de poder ser considerado como uma língua, um dialeto, ou qualquer coisa que se assemelhe à comunicação. Só para se ter uma idéia comparativa, o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa traz mais de 228.000 verbetes (palavras), e a conjugação de 15.000 verbos. Isto mesmo só de verbos existem mais de 15.000 (quinze mil) relatados por este dicionário! A língua inglesa arcaica (como era falada por Shakespeare) tinha mais de 50.000 palavras diferentes, e no Novo Testamento foram utilizadas nada menos que 5.624 palavras diferentes em grego. Não há como se considerar um conjunto de 10 ou 20 ou, mesmo que fossem, 100 vocábulos diferentes como sendo uma língua. Simplesmente não é possível se estabelecer qualquer nível de comunicação lingüística com tão poucas palavras.
Para que tenhamos uma idéia ainda mais clara, somente neste estudo que ora fazemos há em torno de 10.000 palavras, sendo mais de 2.600 palavras diferentes!
É importante que tenhamos em mente que o falar línguas extático, é prática pagã, e existe em praticamente todas as religiões e seitas, do espiritismo ao islamismo, do mormonismo à umbanda.
Todas estas religiões, ou práticas religiosas, alegam possuir o "dom" espiritual de falar línguas estranhas. E muitas, mesmo estando afastadas de Cristo e do Seu Santo Espírito, como o caso dos Mórmons ou dos carismáticos Católicos, alegam possuir o "dom" através de ação do Espírito Santo de Deus. Mais aterrador ainda, é ver um terrorista, com fuzil em punho e máscara sobre o rosto, "falando línguas" (glossolalia), pouco antes de explodir-se em uma lanchonete cheia de crianças.
Hoje, muitos têm perdido a noção de que nem tudo que é espiritual provém de Deus, e que muitas manifestações espirituais, mesmo que assim pareçam, não procedem de Deus, vejamos novamente a advertência que nos faz o apóstolo João:
"Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo." (I João 4:1)
Pequeno Histórico
O falar em línguas extático não se iniciou com Cristãos, na verdade é uma prática muito mais antiga. A primeira referência histórica que se tem de uma fala religiosa frenética remonta a 1.100 a.C. através do relato de Wenamon, onde um jovem adorador do deus Amon, após ter oferecido sacrifícios ao seu deus, foi possesso por ele e iniciou a falar freneticamente. Esta ação, segundo este relato, durou toda uma noite.
Platão demonstrou conhecer o falar em línguas extático ao descrevê-lo em vários de seus diálogos. No Phaedrus ele tratou de famílias que estavam participando de santas orações, ritos e pronunciamentos inspirados. Os participantes eram indivíduos que ao serem possessos perdiam o juízo (perdiam o controle das faculdades mentais, porém não ocorria enlouquecimento). A participação nestes eventos segundo o relato de Platão chegava a produzir a cura física de doenças nos adoradores. A essa "loucura" religiosa ele chamou de dádiva divina. Também afirmava que a profetiza de Delphos e a sacerdotisa de Dodona, quando fora de si, podiam exercer grande influência benéfica sobre certos indivíduos, porém quase nenhuma quando em domínio de suas faculdades mentais. Relatou fatos semelhantes no Ion e no Timaeus. Neste último, relata que quando um homem recebe a palavra inspirada, sua inteligência é dominada ou possessa, e essa pessoa passa a não poder se lembrar do que falou, sendo que estas falas são muitas vezes acompanhadas de visões, as quais a pessoa possessa também não pode julgar, necessitando assim de intérpretes ou profetas para exporem as declarações daquele que tem a fala "inspirada".
Já Vergílio relata que a sacerdotisa Sibelina adquiriu seu falar extático em visita a uma caverna onde os ventos encanados produziam sons estranhos que pareciam, às vezes, música.
Já a Pitonisa de Delfos é descrita por Crisóstomo2, desta forma:
"...diz-se então que essa mesma Pitonisa, sendo uma fêmea, às vezes senta-se escarranchada na trípode de Apolo, e, por conseguinte, o espírito mau, subindo debaixo e entrando na parte baixa do seu corpo, enche de loucura a mulher, e ela, com o cabelo desgrenhado, começa a tocar o bacanal e a espumar pela boca, e assim, estando num frenesi, fala as palavras de sua loucura".
A história não registra entre Cristãos a ocorrência de um falar em línguas extático antes do início do século XX, quando do início do pentecostalismo. Porém, em alguns grupos pequenos e isolados, os quais se diziam cristãos, houve a ocorrência de um falar em línguas extático. Vejamos alguns destes que alegaram ter tido este "dom":
- Século 19
- Irvingitas: Sua principal característica era a de criar novas revelações além das presentes na Bíblia Sagrada.
- Século 18
- Ann Lee e seus discípulos (Shakers): Falavam em línguas enquanto dançavam...nus!!
- Jansenitas: Falaram em línguas ao dançarem sobre o túmulo de Jansen...também nus!!
- Século 17
- Os Quacres, diziam que a experiência devia julgar a Bíblia e não o contrário, há alguns relatos de que houve glossolalia entre eles.
- Século 2
- Montanuenses: também pregavam a contínua revelação e duas classes de crentes, uma superior e outra inferior; Montano, seu líder, alegava ser o próprio Espírito Santo.
Pelo exemplo da postura doutrinária e moral destes que alegaram através dos tempos serem cristãos, e terem falado línguas enquanto em êxtase, podemos afirmar seguramente que não se tratava de verdadeiros Cristãos, pois desdenhavam da palavra de Deus como Sua máxima revelação.
O falar em línguas extático entrou para o Cristianismo, através do movimento pentecostal iniciado por Spurling, Tomlinson e Parham, no início do século XX. Charles Parham foi tido como o pai do pentecostalismo moderno, tendo criado o Lar de Curas Betel e o Colégio Bíblico Betel, o qual ensinava que a evidência do batismo com o Espírito Santo seria sem dúvida a glossolalia. Deste ponto em diante se desenvolveu o movimento pentecostal, perseguindo o batismo com o Espírito Santo e sua evidência visível, a glossolalia. Em 1o de janeiro de 1901, Agnes Ozman, uma das alunas do colégio falou em línguas após ter buscado freneticamente pelo batismo com o Espírito Santo. Ela foi a primeira pessoa dita Cristã a demonstrar a glossolalia.
O movimento pentecostal, teve um crescimento gradual, mas lento, e somente surgiu como um movimento de grandes proporções a partir de meados do século XX. E daí até aos dias de hoje, os distintivos pentecostais, que antes estiveram restritos aos meios pentecostais, começaram a invadir as igrejas tradicionais, e muitas estão sucumbindo a algumas das práticas pentecostais.
Considerações
Frente a estes fatos devemos tecer algumas considerações:
Mesmo tendo claro em nossa mente que muitos crentes sinceros e dedicados têm buscado e apresentado este "dom", precisamos entender que qualquer experiência que contradiga o que nos é ensinado pela palavra de Deus deve ser considerada como anátema, e devemos nos afastar dela:
"A vós também, que noutro tempo éreis estranhos, e inimigos no entendimento pelas vossas obras más, agora contudo vos reconciliou (22) No corpo da sua carne, pela morte, para perante ele vos apresentar santos, e irrepreensíveis, e inculpáveis, (23) Se, na verdade, permanecerdes fundados e firmes na fé, e não vos moverdes da esperança do evangelho que tendes ouvido, o qual foi pregado a toda criatura que há debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, estou feito ministro." (Colossenses 1:21-23)
Bem como devemos estar firmemente fundamentados na Palavra de Deus para através dela podermos ensinar a outros as maravilhosas verdades de nosso Deus:
"Retendo firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto para admoestar com a sã doutrina, como para convencer os contradizentes." (Tito 1:9)
Isto posto, prossigamos em analisar este falar em línguas "moderno":
Segundo as declarações daqueles que dizem possuir o "dom", este vem acompanhado de ventos, perfumes, tremores, convulsões físicas, sensação de flutuação, choques elétricos, luzes, transpiração (devido ao calor do Espírito Santo), visões, curas, ver e ouvir a Cristo e tocar nele, etc. Algumas ou todas estas coisas podem acontecer concomitantemente à glossolalia. Contudo, não há nenhuma referência no Novo Testamento sobre quaisquer destes eventos como ações concomitantes ao falar em línguas, o que descarta estas experiências adicionais como sendo bíblicas.
Também, segundo testemunho dos que têm apresentado o falar em línguas "moderno", sua vida se transformou depois de terem começado a demonstrar o "dom". Mesmo sem compreender as palavras que proferem, surge uma luta interior contra os pecados pessoais, um grande interesse pela igreja, pelo dizimar, pelo aconselhar e pelo falar de Cristo, desejo de estudar a palavra de Deus, e uma grande alegria interior, e alguns chegam a experimentar até curas físicas e mentais.
Claro que os resultados aqui descritos são extremamente desejáveis e recomendáveis a qualquer crente no Senhor Jesus Cristo, contudo devemos ter claramente diante de nossos olhos que o resultado de uma experiência espiritual não constitui um teste válido de sua origem divina. Todas as experiências devem ser julgadas pela Palavra de Deus. O fim não justifica nem revela os meios! Ou uma experiência espiritual está completamente de acordo com a palavra de Deus ou deve ser descartada, por melhor ou por mais promissora que possa parecer!
"Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema" (Gálatas 1:8)
A experiência da glossolalia contradiz completamente os ensinos da Bíblia Sagrada com relação ao propósito, duração e natureza do dom de línguas, bem como quanto à regulamentação do seu uso. Logo, este "moderno falar línguas" NÃO pode ser de Deus, pois Deus não contradiz sua palavra:
"Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei, sem que tudo seja cumprido." (Mateus 5:18)
"Jesus Cristo é o mesmo, ontem, e hoje, e eternamente." (Hebreus 13:8)
Se encontrarmos uma manifestação legítima de "falar línguas", veremos que ela estará plenamente de acordo com o estabelecido pelo Espírito Santo ao redigir a Bíblia Sagrada, através da inspiração de homens santos, e veremos que a língua falada então será humana e inteligível, não haverá nenhum evento concomitante dissonante do descrito pela Palavra de Deus, e a ação terá o propósito de edificar o corpo de Cristo como um todo e haverá alguém para interpretá-la (traduzi-la), se for o caso.
E se não for assim, então, a obra não é de Deus, restando então apenas três outras fontes para esta manifestação de erro: o coração humano, Satanás e a fraude, razões estas que veremos em detalhes mais à frente.
O "dom" de línguas é hoje uma febre que tem tomado conta de denominações pentecostais, neopentecostais e dos assim chamados "carismáticos", evangélicos ou não. Todos estes acreditam que se não for possível falar "línguas estranhas" (ou seja, o falar em êxtase, a glossolalia) não é possível que se alcance a felicidade e a plenitude como cristão, pois não teria havido o batismo com o Espírito Santo, estando este crente, portanto, desprovido do Espírito de Deus, lutando com suas próprias forças para vencer o pecado e todo o mal, em uma situação de total desespero e desalento, sem discernir as coisas de Deus, pois estas se discernem espiritualmente, lutando cego, uma luta em que lhe é impossível obter a vitória, pois todo o poder está em Jesus Cristo e chega a nós através do Seu Santo Espírito. Que triste a condição deste pobre crente, pois, trata-se de engano, já que todo aquele que foi transformado pelo sangue de Cordeiro de Deus recebe o Espírito Santo como selo para o dia da redenção:
"Em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa. (14) O qual é o penhor da nossa herança, para redenção da possessão adquirida, para louvor da sua glória." (Efésios 1:13-14)
"E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual estais selados para o dia da redenção." (Efésios 4:30)
"Mas o que nos confirma convosco em Cristo, e o que nos ungiu, é Deus, (22) O qual também nos selou e deu o penhor do Espírito em nossos corações." (I Coríntios 1:21-22)
Mas, por este engano, colocado no coração destas pessoas, tem-se estabelecido uma verdadeira corrida ao "dom". Daí o enorme desespero e a profunda tristeza que muitos crentes (grande maioria deles, sinceros) enfrenta enquanto não conseguem exibir o tão almejado "dom".
Razões para o "dom" nos dias de hoje
Como ficou amplamente demonstrado acima o dom de línguas bíblico se refere ao falar línguas humanas e inteligíveis. E sendo assim, como poderíamos explicar que crentes em Cristo, resgatados por Seu sacrifício vicário, tenham apresentado um "dom" que está tão longe da verdade Bíblica? Ou, por outro lado, como explicaríamos pessoas completamente estranhas à Igreja de Cristo, apresentando o mesmo "dom" que estes crentes?
No primeiro caso, uma das explicações possíveis é que isto pode estar sendo causado pela enorme necessidade que o Cristão sente de fazer parte da sua congregação, de estar unido a ela. Esta necessidade pode causar tal pressão sobre o subconsciente desta pessoa que ela passa a apresentar o "dom", passando assim a ser completamente aceita pelo grupo com o qual congrega.
Uma outra explicação para este mesmo caso, e uma das mais óbvias, é que seria uma falsa ocorrência, uma fraude produzida para enganar. Mas, vamos descartar esta alternativa, enquanto pejorativa, pois, cremos piamente que não há intenção de dolo por parte dos crentes que professam ter este "dom", eles o têm, e o têm de forma sincera. Mas, podemos imaginar que alguns, por tamanha frustração e infelicidade em seus corações amargurados por não terem ainda apresentado o "dom", possam chegar a imitar os que apresentam o "dom", de modo a terem a compensação psicológica que isto lhes venha a dar.
Por outro lado, a glossolalia pode ser (e em muitos casos é) um fenômeno psicologicamente induzido: Pois, ao contrário do que aconteceu no primeiro século, hoje as pessoas são ensinadas a falar em "línguas estranhas", o que se dá através de uma forma de indução que leva ao delírio e ao êxtase, fazendo então com que a pessoa fale sem parar. É também digno de nota que ninguém seja capaz de executar este "falar línguas" sem que antes o tenha ouvido.
Há ainda a posição duvidosa de certos humanistas, que atribuem a busca pelo êxtase da glossolalia, e de outras práticas concomitantes, à repressão sexual existente no meio Cristão, que coloca o sexo como sendo prática válida somente dentro do casamento. Isto impeliria as pessoas a buscarem dar vazão às suas necessidades através de ações substitutas ao êxtase sexual. Relatam estes humanistas que por diversas vezes estas pessoas chegam ao clímax através do êxtase religioso, satisfazendo-se e dispensando assim as práticas que são proibidas pela doutrina Cristã.
No segundo caso, como foi citado anteriormente, este "fenômeno" ocorre também em meios não evangélicos, como no caso dos católicos carismáticos, de alguns monges orientais e até de esquimós. Poderíamos crer que o Espírito Santo de Deus tenha dado dons espirituais a incrédulos, idólatras e hereges os quais duvidam que a morte do Senhor Jesus tenha sido suficiente para remir nossos pecados? Ou ainda que crêem ser Cristo apenas uma pessoa "iluminada"? Ou que simplesmente nunca ouviram falar de Jesus? Lembremo-nos que os dons são para a edificação do Corpo de Cristo (a Igreja de Jesus) e sendo assim, em que um grupo de idólatras e hereges falando "línguas estranhas" pode vir a edificar este Corpo?
Há também a ocorrência do falar "línguas estranhas" através de inspiração demoníaca. Não são poucas as ocorrências em que demônios falam através de pessoas possuídas:
"Quando, pois, vos disserem: Consultai os que têm espíritos familiares e os adivinhos, que chilreiam e murmuram: Porventura não consultará o povo a seu Deus? A favor dos vivos consultar-se-á aos mortos?" (Isaías 8:19)
"Porventura a minha palavra não é como o fogo, diz o SENHOR, e como um martelo que esmiuça a pedra? Portanto, eis que eu sou contra os profetas, diz o SENHOR, que furtam as minhas palavras, cada um ao seu próximo. Eis que eu sou contra os profetas, diz o SENHOR, que usam de sua própria linguagem, e dizem: Ele disse." (Jeremias 23-29-31)
E muitos que falam em nome de Deus, e que clamam em nome do Senhor Jesus, não são de Cristo, e destes o fogo eterno se incumbirá:
"Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. (22) Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? (23) E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade." (Mateus 7:21-23)
E há algumas doenças que também podem causar o "dom de línguas estranhas", como é o caso de certos tumores cerebrais.
Conclusão
Não nos deixemos enganar pelo inimigo. Esta febre chamada de "dom de línguas" tem provocado a divisão de muitas igrejas. Este alegado "dom" que deveria ser uma bênção, algo para a edificação do corpo de Cristo, está na verdade enfraquecendo e dividindo as igrejas de nosso Senhor Jesus, e está levando crentes ao vício das "línguas estranhas", e ficam de tal forma transtornados, que perdem completamente a razão, a ponto de que caso seja provado - biblicamente - o seu erro, como o foi acima, abandonam prontamente a palavra de Deus em favor de uma experiência de "maior espiritualidade", alegando que a Bíblia Sagrada está limitando o poder de Deus, e que esta experiência, este "dom", é a verdadeira revelação de Deus aos homens, e qualquer que não a tenha experimentado não pode ser considerado como verdadeiro Cristão. Esquecem-se eles que o coração humano é traiçoeiro e perigoso, e não merece confiança:
"Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?" (Jeremias 17:9)
Citando Iain H. Murray: "Nossa visão de Deus precisa ser controlada não pelo que vemos no mundo, mas pelo que a Bíblia nos autoriza a crer." E como disse Erroll Hulse: "Toda experiência precisa ser subordinada à disciplina das Escrituras."
Repetindo: todos os dons são dados por Deus para que sejam úteis ao corpo de Cristo como um todo. E qual tem sido a utilidade deste dito "dom", além de provocar a divisão e a discórdia?
"Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um, para o que for útil." (I Coríntios 12:7)
Finalmente, tenhamos muito cuidado nestes tempos de apostasia, pois há muitos que tentarão nos enganar:
"Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas, e farão tão grandes sinais e prodígios que, se possível fora, enganariam até os escolhidos. Eis que eu vo-lo tenho predito." (Mateus 24:24-25)
E estejamos firmes, perseverando naquilo que de Cristo recebemos:
"... Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos; (32) E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará." (João 8:31-32)
"E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo; até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo, para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente. Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, do qual todo o corpo, bem ajustado, e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, faz o aumento do corpo, para sua edificação em amor." (Efésios 4:11-16)
Bibliografia consultada
A BÍBLIA SAGRADA, Versão Revista e Corrigida Fiel ao Texto Original, Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, São Paulo, 1995;
AUTENRIETH, Georg, A Homeric Dictionary, electronic version;
GARDNER, Calvin, As "Línguas" no Novo Testamento, Wooster Baptist Temple, Wooster, EUA;
GROMACKI, Robert G., Movimento Moderno de Línguas, 2a edição, JUERP, Rio de Janeiro, 1980;
HOUAISS, Antonio, Dicionário Houaiss da língua portuguesa, versão eletrônica;
LIDDELL, Henry George; SCOTT, Robert, A Greek-English Lexicon, electronic version;
SANTOS, Paulo S., Dons do Espírito Santo, Igreja Batista Esperança, São Paulo, 2001;
SLATER, William J., Lexicon to Pindar, electronic version;
STRONG, James LL.D., S.T.D, Strong's Concordance of the Whole Bible, Abingdon, Nasville, EUA, 1981.
1 Todos os textos bíblicos citados neste estudo foram extraídos da tradução de João Ferreira de Almeida - Corrigida e Revisada Fiel ao Texto Original (ACF), editada pela Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil, em 1995, exceto quando houver sido especificado em contrário.
2 Um dos pais da Igreja
|